VOCÊ E ESTÁ DOENTE DE QUE?
DOENÇAS PSICOSSOMÁTICAS
UM NOVO OLHAR PARA O MEDO E RAIVA DA VIDA DO SUJEITO.
No Processo Humano as
doenças rotuladas como "psicossomáticas" resultam da fuga de psicose
transitória.
Os pacientes pelo temor da vida psíquica convertem as manifestações
emocionais reprimidas em lesões do soma, de cujos sintomas se queixam.
Durante tratamento analítico a psicose
vivida entre analisando e analista permite desaparecimento dos sintomas e
abrandamento das lesões estruturais.
Advertência na
Investigação do Doente Psicossomático
Em princípio não existiria relação de
objeto nos transtornos psicossomáticos pelo bloqueio existente no inconsciente
que impede a filtragem de seus produtos. Estabelece-se uma regressão como se
estendesse até o corpo, dando ilusão de comunicação direta com o inconsciente,
o que é inteiramente falso.Sabemos que os sintomas somáticos traduzem irregularidades
no funcionamento mental, todavia não há contato com o inconsciente, de tal modo
que a transferência supostamente proporcionada pelo paciente é uma armadilha
para o analista, que ouve palavras de simpatia, amor, aversão, atração, ódio,
rejeição, etc. mas nada de conteúdo inconsciente.
Explica-se tal ocorrência porque o
paciente tem falhas na elaboração psíquica.
Os sintomas somáticos, a semelhança de um acting traduzem essa
lacuna do psiquismo.
Dimensão do
Funcionamento Mental.
Nesta altura, para entendimento dos
fenômenos psicossomáticos cabem noções do funcionamento mental, sobretudo
quando se considera a prática clínica do processo analítico em duas visões: de
globalização e de diferenciação.
No
exercício da analise sob visão de globalização a pratica se realiza em função
da relação de objeto com mecanismos de transferência e contratransferência,
diminuindo-se o papel da pulsão. Trata-se de comunicação onde o paciente é
tomado como um todo e traduzida em termos de ansiedade, angústia, fantasias e
mecanismos de defesa, perdendo-se a dimensão do funcionamento mental pelo não
aproveitamento de pormenores dos mecanismos psíquicos. São a favor dessa
pratica da relação de objeto não só o seu
introdutor Fairbarn, Widlocher e Melanie Klein.
No exercício da análise sob visão de diferenciação a prática inclui o
conceito de pulsão dispondo-se o afeto como seu componente de descarga podendo
estar ligado a uma representação como no exemplo clássico descrito por Joan
Riviérie: Um bebê ficava muito ansioso quando a mãe entrava no quarto. Após
três anos, a criança pode falar sobre esse episódio, quando encontrou, no
armário de sua mãe, um sapato velho, com sola solta dando impressão que a
genitora poderia comê-lo.
Tem-se conceito de energia na descrição
desse episodio, bem como conceito de representação e de palavra.
Freud pode reconhecer a importância de uma só palavra, fazer analise em
torno dela e concluir que em certo momento o inconsciente sofre modificações
por um só vocábulo.
Reconhece-se o valor da comunicação
pela linguagem em função dos inúmeros enunciados que uma só palavra encerra.
Leva-se em conta de forma rigorosa o significado das palavras, pois a cadeia da
linguagem nos dá acesso ao inconsciente. A interpretação segue a trilha dos
vocábulos que a associação livre fornece.
A favor do conceito de pulsão e conseqüentemente ligados aos conceitos de energia e diferenciação se alinham Greenl Laplanche e Anzieu.
A favor do conceito de pulsão e conseqüentemente ligados aos conceitos de energia e diferenciação se alinham Greenl Laplanche e Anzieu.
Procura-se na prática clinica acoplar a
teoria da relação de objeto com visão globalizada com a teoria da diferenciação
mental.
Representação
Poder-se-ia dizer que alguma excitação pode partir da esfera somática e ir de encontro a barreira somatopsíquica e a seguir penetrar no psiquismo, onde vai encontrar excitação, que chegam derivadas da pulsão.
Poder-se-ia dizer que alguma excitação pode partir da esfera somática e ir de encontro a barreira somatopsíquica e a seguir penetrar no psiquismo, onde vai encontrar excitação, que chegam derivadas da pulsão.
Seria descrito o conceito limite entre
o somático e o psíquico quando aparece a pulsão, que surge como representante
psíquico das excitações que nascem no interior do corpo e chegam ao psíquico.
A pulsão surge como medida de exigência de trabalho imposta ao psíquico
devido seu vinculo com o corporal.
Tudo se passa como mensagem de noticias
pouco alvissareiras do corpo, pedindo ajuda ao se ouvir uma paciente
exclamando: "se o senhor tem méritos, pelo que eu li em revista
cientifica, posso aceitar ter em mim uma perturbação psicossomática".
A paciente parece dizer que algo não
vai bem com ela. Seria o primeiro sinal psíquico da pulsão manifestada sob a
forma de tensão, mas sem representação. E, todavia, mensagem de quem espera uma
resposta em função de sofrimento.
O que vai ocorrer?
O que vai suceder com a tensão da
pulsão?
Procurar no psiquismo um objeto que
outrora trouxe alívio?
Começamos tirando do latim a palavra representatione na procura de algo
que se reproduz apreendido pelo pensamento, pela imaginação ou pelos sentidos.
Assim o representante psíquico ao aliar-se com a
representação da coisa vai constituir o representante-representação investido
de grande energia econômica, dinâmica e tópica.
Seria este o caráter do desejo, o caráter da
compulsão, o caráter da manifestação inconsciente contra a qual a vontade nada
pode fazer.
Mas, o representante-representação estando ainda
insatisfeito tenta passar para a consciência mas encontra a segunda barreira
somatopsíquica ou o limite inferior do inconsciente.
O representante-representação, face às relações com
a repressão, é reprimido e obrigado a trabalhar porque uma representação não
permanece no inconsciente como estava no inicio. Há grande dinamismo, pois se
transforma, disfarça-se, condensa-se, desloca-se por ser o único modo de ter
êxito para atravessar a fronteira.
Toda representação em estado bruto não passa pela
barreira. Será reprimida. Ultrapassará somente com nome falso.
Na passagem ao sistema
consciente devemos lidar não apenas com representações de coisas mas com a
relação:
representação de palavras
representação de coisa + afeto
quando se dá a passagem para a linguagem do sistema primário para secundário.
representação de palavras
representação de coisa + afeto
quando se dá a passagem para a linguagem do sistema primário para secundário.
A representação da coisa inconsciente é carregada
de onda energética e tem relação com a representação da coisa consciente, que
traz consigo energia, portanto dispondo de potencial dinâmico e potencial de
transferência. Existiria, assim representação de transferência e transferência
de representação.
Todos esses potenciais se encontram na linguagem. O
analista procura servir-se de todas as ambigüidades possíveis, pois através da
linguagem encontra o único caminho do inconsciente.
O trabalho analítico,
rico em analise de transferência, se faz com o confronto da representação da
coisa com a coisa inconsciente.
A representação da coisa é o único elemento comum
entre o sistema inconsciente e o sistema consciente. Nesse espaço, nessa
diferença encontramos o acesso aos conflitos inconscientes.
Suas Lacunas e
Necessidade de Ajuda
O doente psicossomático não tendo emoções foge do mundo interno e faz ,
adaptações em posição distante da realidade externa.
Ele ilude e se ilude, em relação ao principio da
realidade. Não suporta frustrações porque não agüenta a dor mental e foge da
experiência emocional porque tem medo da vida e chora pelo corpo (3).
Ele não percebe, não sente, não ouve e não fala
porque não usa a sua mente.
Tudo é percebido, sentido, ouvido e falado pelo
analista, utilizado como instrutor, que usa sua mente.
O paciente perdeu tudo, só tem o corpo. Necessita
de ajuda pois encontra- se sem palavras para as emoções e sem símbolos para os
estados somáticos, Montagna (5).
Agora, quer recuperar o que o corpo tomou conta, a
representação, mas não sabe recuperar sozinho.
O analista serve de instrumento. Cabe a ele entrar
em sintonia com o paciente e, ao mesmo tempo, fazer sentir como ter postura,
expressão facial, amor, ódio, fantasias, etc.
O paciente vai sentir
o que o analista sente, onde todos, com experiência reafirmam essa assertiva
Pally (6).
O analista, quando em sintonia, organiza o paciente
anatomicamente, ao abrir espaço para o psíquico, onde só havia corpo. Vai
substituir a mãe que falhou na função de pensar e usou o paciente como extensão
de si própria, com características narcisicas MC Dougall (4).
O analista vai recriar dentro do paciente o que
está morto dentro dele, organizando sua memória, abrindo espaço para novas
representações. O pai estaria possivelmente, desqualificado e ausente em seu
mundo de representações.
O paciente e o analista estariam, guardadas as
devidas proporções, a disposição do "reverie", deficiente ou incapaz
de atenção, memória, julgamento, imagens capazes de propiciar associações, etc.
Estratégia dos Distúrbios
Psicossomáticos
O doente psicossomático faz adaptações em posição distante da realidade externa, sem contato emocional e fugindo do mundo interno. Ele ilude o desenvolvimento do principio da realidade, não tolera a dor mental e foge da experiência emocional, porque não sabe falar. O que ele percebe, sente ouve e fala não é dele. Tudo é percebido, sentido, ouvido e falado pelo analista. Não usa sua mente, mas a do analista. Tudo ele perdeu e agora quer recuperar o que o somático tomou conta, a criação da representação.
O doente psicossomático faz adaptações em posição distante da realidade externa, sem contato emocional e fugindo do mundo interno. Ele ilude o desenvolvimento do principio da realidade, não tolera a dor mental e foge da experiência emocional, porque não sabe falar. O que ele percebe, sente ouve e fala não é dele. Tudo é percebido, sentido, ouvido e falado pelo analista. Não usa sua mente, mas a do analista. Tudo ele perdeu e agora quer recuperar o que o somático tomou conta, a criação da representação.
O analista serve de instrumento. Ele vai sentir,
fantasiar, ter afetos, etc. para o paciente. Tudo vai sendo despertado dentro
do paciente para que este possa perceber dentro de si e apreender a realidade.
A chave dos distúrbios psicossomáticos deve ser
procurada no funcionamento pré-natal, que deixa vestígios na vida uterina, mas
obscurecidas pela cisão do nascimento.
Esses vestígios
pré-natais parecem derivados de uma herança indesejável, porque constituem parte
das forças hostis ao crescimento mental.
Seria de se supor que a sensibilidade do feto não
agüentaria certas tarefas excessivas por serem ainda muito precoces.
O bebê intra-uterino, muito sensível ao desprazer,
tenta ficar livre da “proto-idéias", que possibilitam, no futuro, pôr-se
em contato com os “fatos" da experiência da realidade.
Captar, em análise, os elementos pré-natais
dependeria da capacidade de percepção, cujo alcance é muito rudimentar.
Os estados mentais pré-natais e as proto-emoções podem romper barreiras
(cisões) e produzir manifestações psicossomáticas. (Winnicoot)
As forças hostis ao crescimento mental e ao
conhecimento podem propiciar irrupções psicossomáticas, uma vez que a mente é
aquisição tardia e pouco evoluída em relação a herança animal. Talvez, por esse
motivo, as manifestações psicossomáticas compartilham com o funcionamento
psicótico, como o "modelo" da mente constituída por personagens pré e
pós-natais.
Sofrimento Proporcionando Simbolização
A mente enfrentando o sofrimento ganha o desenvolvimento simbólico. A oposição entre amor, ódio, conhecimento e o pensar, acerca da experiência emocional, permite a construção de símbolos. Tal acontecimento decorre da possibilidade de tolerar a depressão da posição depressiva.
A mente enfrentando o sofrimento ganha o desenvolvimento simbólico. A oposição entre amor, ódio, conhecimento e o pensar, acerca da experiência emocional, permite a construção de símbolos. Tal acontecimento decorre da possibilidade de tolerar a depressão da posição depressiva.
Os símbolos, despojados do significado e da emoção,
criam a desmentalização e a mentira.
O encontro entre a mente do bebê e a mente da mãe com capacidade de devaneio propicia a operação mental que é o pensamento. A mentira é vinculo que destrói a mente de ambas.
Os signos indicam objetos, coisas, etc. e também os representa.
O encontro entre a mente do bebê e a mente da mãe com capacidade de devaneio propicia a operação mental que é o pensamento. A mentira é vinculo que destrói a mente de ambas.
Os signos indicam objetos, coisas, etc. e também os representa.
A simbolização é uma capacidade inata
que só pode se desenvolver num vinculo humano. As progressivas qualidades
simbólicas partem do corpo com dados sensoriais em estado bruto e carente de
significado. Mas, na seqüência, com a percepção da experiência emocional é
possível alcançar os ideogramas oníricos, equiparações simbólicas como o
pré-simbolo, chegando aos pensamentos ligados em narrativas e aos novos
pensamentos.
Essa transformação simbólica é necessidade básica como atividade
primaria.
O paciente e o analista, diz Bucci (2) põem na sua
relação núcleos afetivos que são
compartilhados na experiência bi-pessoal, que se renova continuamente, através de códigos de processamentos sub-simbolico, simbólico não verbal e simbólico verbal como levando do corpo ao psíquico.
compartilhados na experiência bi-pessoal, que se renova continuamente, através de códigos de processamentos sub-simbolico, simbólico não verbal e simbólico verbal como levando do corpo ao psíquico.
A satisfação de expressar idéias, e o prazer de
simbolizar constituem capacidades inatas da espécie humana.
Em uma relação parasitaria, a mente primitiva
despoja a mente evoluída das conquistas simbólicas.O processo de simbolização
tem duplo sentido: por ser observado em uma direção tornando-se cada vez mais
complexo em sua evolução e em outro sentido caminhando para degradação,
deteriorando-se.
É sabido que a onipotência, a violência e a mentira
exacerbam o ódio à verdade da mente. O desenvolvimento simbólico pode ser usado
a serviço de conseguir mentiras e enganar as pessoas. Têm-se exemplos
nacionais, o execrável, mestre em criticas destrutivas, desejando sempre o mal
a alguém e a malvadeza, impiedosa provocando intrigas, confusão e revolta.
A passagem de alterações do corpo para mente, tal
como o não verbal para expressão simbólica retira o peso e liberta o fenômeno
do processo humano, antes aderido ao soma.
O alivio do sofrimento seria desligar, do corpo
alterado, o sintoma, e, conectá-lo ao símbolo não verbal e depois o símbolo
verbal, em última instância tirando do soma e conduzindo ao psíquico.
Poder-se-ia supor, dentre múltiplos códigos de pensamentos,
retirar o signo da concretude somática, através da energia das emoções, para a
abstração simbólica onde há significação.
Considerações sobre Experiência Clínica.
As experiências com o corpo, difíceis de serem expressas por palavras, seriam como palpá-lo, toca, cheirá-lo, talvez como elementos sub-simbólicos. (Lacan)
Paciente de 35 anos, casada, com um
filho, engenheira, portadora de gastroenterocolopatia funcional, chega ao
consultório, e andando, antes de acomodar-se, diz "sua casa é agradável e gostosa".
Logo, a seguir, entra em narrativa, descrevendo episodio do dia anterior,
quando muito ansiosa, esperava a chegada, com muito atraso, do marido, para
jantar. "o senhor não pode supor, quanta coisa eu disse, dentro da minha
cabeça, sobre essa espera. Todavia, antes dele chegar, tive diarréia com três a
quatro evacuações pastosas, precedidas de cólicas abdominais terríveis. Na hora
em que meu marido chegou, não disse uma palavra.
Em seguida, olha-me dizendo: "ele chegou e
tudo foi aqui, e, aponta o abdômen todo. Olha, foi aqui mesmo e nada
mais".
A- mostra-me que perdeu tudo, até o bom de sua
casa. Possui somente o corpo, onde o ruim se localiza.
Sua indicação parece mostrar desejo de
transformação da opção significa para sub-símbolos, ainda em concretude.
Criação de Espaço Mental Rara Memorizar
Em outra oportunidade, consegue lembrar-se de palavras proferidas em sessão e que diziam respeito à pessoa da paciente, atendida por mim, quando de um impedimento dela. Por outro lado, acha curioso, em certo dia, ter-se esquecido de levar seu filho ao escritório do marido, pois ambos iriam à uma reunião.
Em outra oportunidade, consegue lembrar-se de palavras proferidas em sessão e que diziam respeito à pessoa da paciente, atendida por mim, quando de um impedimento dela. Por outro lado, acha curioso, em certo dia, ter-se esquecido de levar seu filho ao escritório do marido, pois ambos iriam à uma reunião.
Como analista estaria, como nos conta Montagna (5),
em disponibilidade para recriar em sua mente alguma área obtida por afeto, para
memorizar, ficando surpresa por sentir em sua mente algo diferente do que
acontece com o aparelho digestivo.
Organização mental
Como moldura dos episódios clínicos dessa paciente, destaque-se a organização em sua mente, quando percepção, visão e audição vinculadas abrem caminho significativo: "ontem, me foi possível, quando daqui sai, ter percebido, olhando para o senhor e ouvindo suas palavras, a chegada de uma idéia jamais ocorrida em minha vida: eu também existo como meu marido e meu filho".
Como moldura dos episódios clínicos dessa paciente, destaque-se a organização em sua mente, quando percepção, visão e audição vinculadas abrem caminho significativo: "ontem, me foi possível, quando daqui sai, ter percebido, olhando para o senhor e ouvindo suas palavras, a chegada de uma idéia jamais ocorrida em minha vida: eu também existo como meu marido e meu filho".
No dia seguinte, ao entrar, caminhando para
sentar-se, ainda de pé, disse: "como está muito frio, creio, para vir para
cá, devo-me cobrir com uma manta".
Depois de acomodada, poucos instantes a seguir, principia
a falar: "não sai da minha cabeça aquele episodio, já lhe contei quando eu
esperava muito inquieta o chegar, usei o celular e desabafei, mesmo estando
longe, falei, falei, falei,... na hora eu não disse. Formidável o
celular!!!"
Perguntei-Ihe sobre o receio daquele momento.
Responde-me ter medo das palavras, no sentido geral!!.
Manifestei-me dizendo: agora, ao chegar, conta-me
que percebendo que existe, pede-me ampara-Ia cobrindo-a com uma manta pelo
receio de que eu possa falar e minhas palavras possam machucá-la, neste
momento.
Comentários
Propõe, pela sua grande ansiedade, que falemos pelo celular, seu instrumento de proteção, que pode usá-lo, desligando-se de mim, quando não lhe agrado ao falar.
Propõe, pela sua grande ansiedade, que falemos pelo celular, seu instrumento de proteção, que pode usá-lo, desligando-se de mim, quando não lhe agrado ao falar.
A paciente parece não poder admitir que depende de
um objeto externo. O celular é instrumento, em que ela produz e consome, de
tudo que depende em sua vida, por essa razão é... formidável.
O processo psicossomático é dominado por
consequências de fatos físicos. Ficam distantes as seqüências dos episódios mentais,
porque nenhum é conseqüência de outro.
Pode-se partir do soma para o psiquismo, como da
conseqüência para a seqüência.
A paciente esta muito
distante para superar a tripeça: frustrações, depressão e culpa.
A expectativa de evolução favorável da paciente
consiste na sua capacidade de suportar a dor da frustração, de ouvir o que não
deseja.
Sua capacidade de verbalizar somente vai aparecer,
o que queremos comprovar, somente depois de passar por depressão e
reconhecer-se culpada pelos acontecimentos específicos de sua vida.
A ligação entre paciente e analista não é
mensurável. Há algo profundo na comunicação. Às vezes, falamos sem saber o que
falamos. Talvez, a conotação mais fácil seria a procura de palavras simples
indicadoras de dois objetos relacionados.
A interpretação reside na analise das palavras, sua
trajetória e no jogo bi-pessoal analista-analisando como caminho para o
inconsciente.
Quem é o sujeito?
Na exposição desta experiência clinica cabe dizer: "você e eu e não você- isto (abdômen) e eu", numa relação racional entre dois seres humanos, sem um intruso (abdômen)!
O intruso interrompe a percepção dela própria e a
minha.
A paciente reside em outro município. A distancia é
grande para chegar ao consultório e nunca chega atrasada. Chegar depois do
horário marcado talvez não agradasse a ela e nem à mim, com o sinal que estaria
errando.
Mas quem é o sujeito? Ela, o abdômen ou eu?
Abre-se novo espaço
em sua mente
Em nova sessão, introduz-se na sala e ainda de pé, fala: "tive muitas saudades de sexta-feira para cá. Não me foi possível vir, pois submeti-me à uma endoscopia. Nesse intervalo de tempo pensei no que estávamos conversando aqui e, ao mesmo tempo, o que acontece entre eu e o meu marido. Eu quando vou responder, procuro antes escolher as palavras para falar o que é certo. Tenho constantemente essa preocupação porque fico espremida dentro de minha cabeça para selecionar aquilo que é correto".
Respondo-lhe, que me pede aumentar sua capacidade
mental, abrindo espaço, para receber- e não evacuar pelos intestinos -palavras
por mim pronunciadas, diferentes das suas.
Ao que, a paciente logo comunica: "se o senhor
abre espaço na minha mente eu não preciso mais ficar espremida, angustiada!!!"
Então, poderia me ouvir, sem medo?
Diz a paciente: '\enquanto o senhor falava de novo
espaço -eu senti qualquer coisa na barriga, mas logo passou..."
A Violência de nossos dias
Acho terrível a violência nos dias de hoje. Não poucas vezes, quando saio de carro, de repente paro em um semáforo. Olho para um lado e vejo alguém - um sujeito, em outro carro, observando-me como se fosse me assaltar!
Acho terrível a violência nos dias de hoje. Não poucas vezes, quando saio de carro, de repente paro em um semáforo. Olho para um lado e vejo alguém - um sujeito, em outro carro, observando-me como se fosse me assaltar!
Subitamente, o sinal verde permite me livrar desse
susto! Penso ser um assalto de brincadeira. Eu entrego o meu relógio e pago
minhas culpas.
Esse seu relato está ligado a nossa relação aqui?
Eu contei por contar uma brincadeira como outra qualquer...
Parece, em sua h isto ria, pagar para livrar-se de
alguma coisa sua? Não sei bem o que seja...
Receia que seja eu o sujeito que assalte por
atributos que tem?
Bem, bem, bem. Temo uma coisa dentro de mim e não
sei o que é. Talvez, um receio que sempre tive, desde moça, de provocar atenção
e ser atraída por muitos rapazes...
Um desejo seu posto em mim?
Talvez... não sei.
Uso de antidepressivos durante as
férias
Um dia antes de entrar em férias esteve em consulta com gastroenterologista, que lhe receitou antidepressivo, podendo tomar quando necessário.
Um dia antes de entrar em férias esteve em consulta com gastroenterologista, que lhe receitou antidepressivo, podendo tomar quando necessário.
A paciente relata que decidiu tomar desde o
primeiro dia de férias. Começou com meio comprimido tendo diarréia durante
cerca de uma semana. Cessada a diarréia, passou a tomar um comprimido ao dia,
na suposição de que poderia encurtar o processo analítico.
Chega no primeiro dia, após as férias, cerca de 30
minutos antes, dizendo que vem fazendo sobre si mesmo um processo de pressão
para abreviar o tratamento comigo, uma vez que está muito tensa sobrecarregada
de tarefas muito numerosas em seu trabalho, queixando-se da distancia de onde
mora e dificuldades de transito que enfrenta e que isso não dá para agüentar!
A- O que pensa sobre a coincidência de tomar antidepressivo a partir do primeiro dia de férias?
P- Penso que o antidepressivo apressa o processo do tratamento!
A- Sua diarréia coincide com alguma coisa?
P- Não sei. Não tenho idéia!
A- Se o antidepressivo melhora o aparelho digestivo não acha estranho ter diarréia?
P- Não sei nada. Apenas tensa, confusa, ansiosa e preocupada de que não dou conta do trabalho exatamente, agora, que dispensaram vários funcionários e tudo cai em cima de mim!*
Descobre a
hostilidade de um homem
Na sessão seguinte, encontra
explicações em um homem agressivo.
Desde criança, minha mãe fazia criticas,
porque eu punha tudo para fora, com muita raiva e ódio! Me transformou em outra
mulher que devia ouvir e não rechaçar as pessoas intempestivamente. Quando
comecei a trabalhar como advogada, tinha colega sócia, que tolerava desaforos
por uma ou duas horas de algum cliente muito perturbado. Eu seguia no mesmo
tom.
Desfiz a sociedade.
Passei, em concurso, para Oficial de Justiça. Nessa
função, encontrei hoje, um homem muito agressivo, quando lhe fiz entrega de uma
intimação. Soltou impropérios que me abalaram incontinente aqui na minha
barriga. Entendi na hora que devo ser diferente e não aquela que tolera tudo.
A- Não seria eu o homem agressivo
que disse algo que não gostou, e que lhe teria feito alguma pressão?
P- Não o senhor falou o que é justo. Pode ter sido duro, mas foi carinhoso. Esse homem não, foi rude, tempestuoso e mau. Senti logo a dor na barriga. Percebi que devo mudar, não devo continuar assim. Agora, parece que estou entendendo.
P- Não o senhor falou o que é justo. Pode ter sido duro, mas foi carinhoso. Esse homem não, foi rude, tempestuoso e mau. Senti logo a dor na barriga. Percebi que devo mudar, não devo continuar assim. Agora, parece que estou entendendo.
Suas tarefas
Desde cedo estou preocupada se consigo dar conta do que tenho afazer durante o dia. Fico ansiosa com o volume de processos à despachar, e, se tudo vou fazer no prazo que estipulei! A minha preocupação é desde que acordo até à noite. Estou sempre assim!
Desde cedo estou preocupada se consigo dar conta do que tenho afazer durante o dia. Fico ansiosa com o volume de processos à despachar, e, se tudo vou fazer no prazo que estipulei! A minha preocupação é desde que acordo até à noite. Estou sempre assim!
Lembro-me quando criança tinha alergia bem aqui na
barriga. Depois de desaparecer a alergia veio a coceira no mesmo lugar e é aqui
hoje que estou me lembrando de ter cólicas intestinais e diarréia.
A- Fala-me de coisas e do corpo, que me mostra tomando conta de tudo. Parece que nada sente ao estar junto comigo?
P- Eu falo sobre as tarefas Que desenho de manhã até à noite. Sou assim!
* Com essas perguntas, procurei emprestar, sem êxito, meu Ego para elaboração psíquica de suas funções somáticas.
A- Fala-me de coisas e do corpo, que me mostra tomando conta de tudo. Parece que nada sente ao estar junto comigo?
P- Eu falo sobre as tarefas Que desenho de manhã até à noite. Sou assim!
* Com essas perguntas, procurei emprestar, sem êxito, meu Ego para elaboração psíquica de suas funções somáticas.
Medo de viver a vida
P- O senhor parece um lorde. ..sua observação sobre o uso de antidepressivo me pareceu tê-Io chocado e, ao mesmo tempo, decepcionado com minha evolução até o inicio das férias.
A- O antidepressivo afogou possibilidades de viver sua separação comigo, mas neste momento consegue me ver... mas sem dizer o que sente.
P- Refleti sobre a tolice que fiz, como se eu tivesse me proposto a perder minha identidade com o uso de antidepressivo.
P- O senhor parece um lorde. ..sua observação sobre o uso de antidepressivo me pareceu tê-Io chocado e, ao mesmo tempo, decepcionado com minha evolução até o inicio das férias.
A- O antidepressivo afogou possibilidades de viver sua separação comigo, mas neste momento consegue me ver... mas sem dizer o que sente.
P- Refleti sobre a tolice que fiz, como se eu tivesse me proposto a perder minha identidade com o uso de antidepressivo.
Eu recebi informação por telefone, que meu sobrinho
sofrera um acidente e fora hospitalizado. De repente, tive uma sensação
estranha dentro de mim, como alguma coisa já experimentada no passado e que não
sei o que é! Nada senti no abdômen.
Não tive repercussão alguma no aparelho digestivo.
Mas, essa sensação... Incontinenti, tive desejo de ir vê-Io no Hospital.
A- o receio de viver uma
emoção foi dissipado ao fazer alguma coisa concreta: ir ao Hospital?
P- Não tinha pensado nisso. Ao chegar ao Hospital vejo o rosto de meu sobrinho: uma metade cheia de escoriações, sangue,olho saltado avermelhado, impressionante, a oub"a metade normal, sem qualquer lesão, lisa, perfeita.
A- Poderia perceber as suas duas metades: uma, a mente que lhe causa muito medo e a outra, o corpo domesticado por suas exigências?
P- Puxa! Que coisa! Olho para o sobrinho vejo seus olhos vermelhos como se fosse chorar. Eu me contenho, faço tudo para não impressioná-lo. Consigo não chorar!
A- Supõe o choro como alguma coisa má?
P- Ele poderia, ao me ver chorando, pensar: "eu enlouqueci!!!"
A- Sentimentos e emoções traduziram loucura! Por essa razão se empenha na separação da mente louca com o corpo supostamente sadio?
P- Começo a entender o meu medo de viver a vida!
A- Sua experiência parece ajuda-Ia a conhecer-se um pouco mais.
P- Não tinha pensado nisso. Ao chegar ao Hospital vejo o rosto de meu sobrinho: uma metade cheia de escoriações, sangue,olho saltado avermelhado, impressionante, a oub"a metade normal, sem qualquer lesão, lisa, perfeita.
A- Poderia perceber as suas duas metades: uma, a mente que lhe causa muito medo e a outra, o corpo domesticado por suas exigências?
P- Puxa! Que coisa! Olho para o sobrinho vejo seus olhos vermelhos como se fosse chorar. Eu me contenho, faço tudo para não impressioná-lo. Consigo não chorar!
A- Supõe o choro como alguma coisa má?
P- Ele poderia, ao me ver chorando, pensar: "eu enlouqueci!!!"
A- Sentimentos e emoções traduziram loucura! Por essa razão se empenha na separação da mente louca com o corpo supostamente sadio?
P- Começo a entender o meu medo de viver a vida!
A- Sua experiência parece ajuda-Ia a conhecer-se um pouco mais.
Considerações
Não se ajustam as mensagens corpo-mente. O soma não consegue representação simbólica no aparelho mental. O seu corpo parece anulado como fonte vital de informações provocando lacunas no crescimento mental.
Não se ajustam as mensagens corpo-mente. O soma não consegue representação simbólica no aparelho mental. O seu corpo parece anulado como fonte vital de informações provocando lacunas no crescimento mental.
Em conseqüência, seu plano de vida, não oferecendo
episódios de sensações e emoções, gera crises somáticas.
O imaginado "viver a vida" esconde pulsão
de morte como tributo a ser pago pela sua grande capacidade de trabalho.
Sua linguagem pré e
paraverbal fornecem dados sobre a cisão mente-corpo.
Quando o corpo não consegue representação simbólica
( episódios do acidente do sobrinho, quando hospitalizado) a paciente é
impulsionada a fazer coisa!.
-Perdeu tudo. Só tem o corpo, parecendo ter vida
regida por código visceral.Talvez, o medo de viver abriria caminho do soma ao
símbolo.
A analise,
em sua evolução, pode proporcionar transformações com o surgimento de mensagens
com significados.
É idéia estimulante do crescimento, que pode, segundo Bion, envelhecer
rapidamente.
Resumo
O grande desafio da Medicina Psicossomática, de nossos dias, é descobrir conexões sinápticas que articulem as emoções geradas pelos sistemas neurais, ainda não registradas pela nossa percepção profunda, com as mesmas emoções de nossas constelações psíquicas que utilizamos nos cuidados bi-pessoais ou grupais dos transtornos psicossomáticos.
A
grande esperança é transmitir a todas as pessoas capacitadas para esses
cuidados não esqueceram que o doente psicossomático tem uma impotência régia :
não usa a sua mente e, como tal, foge de toda experiência emocional porque o
que percebe, sente, ouve e fala, não pertencem a ele.
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Referências bibliográficas:
1. Bion, W. (2000) Cogitações, edição Francesca Bion. Tradução de E.H.Sandler e P.C.Sandler, Imago Ed, 16 -30.2. Bucci, W (1997) Symptoms and symbols.
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Referências bibliográficas:
1. Bion, W. (2000) Cogitações, edição Francesca Bion. Tradução de E.H.Sandler e P.C.Sandler, Imago Ed, 16 -30.2. Bucci, W (1997) Symptoms and symbols.
A multiple code theory of somatization.
psychoanalytic Inquiry, 151- 72.3. Capisano,
H. (1978) Afetos na enfermidade psicossomática.
Contribuições
psicanalíticas a Medicina Psicossomática. II Encontro Argentino Brasileiro de
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Dougal, J. (2001)
Teatros
do Corpos, Ed, Martins Fontes, S.Paulo.5. Montagna,
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Ver.
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Vol. 35(1) : 77 -88.6. Pally, R. (1998)
Emotional processing: the mind-body connection. Internat. Joum.
Psycho-Anal, 349- 62. Fonte de Imagens: Sites
Internet Aberta