O que é forclusão ou foraclusão
* Psicose*
Conceito comumente descrito pelo psicanalista francês Jacques Lacan para
designar um mecanismo específico da psicose.
A forclusão é o mecanismo “psíquico”
na qual se produz rejeição de um significante
(imagem acústica e simbólica) que
é fundamental (neurose) para fora do universo simbólico do sujeito
(neurótico) e isso leva o sujeito direto a “Psicose”
Quando essa rejeição se produz, o significante é “foracluído” expulso.
Não é integrado no inconsciente, como no recalque (neurose) e retorna
sob forma alucinatória no real do
sujeito. (Psicose).
No Brasil também se usam foraclusão, forclusão,
repúdio,rejeição e preclusão visto que
o termo foraclusão foi introduzido por Jacques Lacan em 1956, na sessão
de seu seminário dedicado às psicoses e à leitura do comentário de Sigmund Freud sobre a paranóia do jurista
Daniel Paul Schreber.
Para compreender a gênese desse
conceito, há que relaciona-Io com a utilização que Hippolyte Bernheim fez, em
1895, da noção de alucinação negativa: esta designa a ausência de percepção de um objeto presente
no campo do sujeito após a hipnose.
Freud retomou o termo, porém não mais
o empregou a partir de 1917, na medida em que, em 1914, propôs uma nova
classificação das neuroses, psicoses e
perversões no âmbito de sua teoria da castração.
Deu então o nome de Verneinung ao mecanismo verbal pelo
qual o conteúdo recalcado (ics) é reconhecido de maneira negativa pelo sujeito, sem no entanto
ser aceito: "Não é meu pai."
Em 1934, o termo foi traduzido em francês por négation [negação].
Na forclusão há (negação da inscrição do nome do pai (ics) que
privilégio é outorga da fala da mãe)
Quanto à renegação (Verleugnung), Freud a
caracterizava como a recusa, por parte do sujeito, a reconhecer a
realidade de uma percepção negativa – por exemplo, a ausência de pênis na
mulher.
Paralelamente, na França, Pichon
introduzia o termo "escotomização", para designar o mecanismo de enceguecimento inconsciente
pelo qual o sujeito faz desaparecerem de sua memória ou sua consciência fatos
desagradáveis. Em 1925, uma polêmica opôs Freud a René Laforgue a
propósito dessa palavra. Laforgue propunha traduzir por escotomização tanto a
renegação (Verleugnung) quanto um
outro mecanismo, próprio da psicose e, em especial, da esquizofrenia. Freud
recusou-se a aceitar e distinguiu, de um
lado, a Verleugnung, e de outro, a Verdrangung (recalque).
A situação descrita por Laforgue
despertava a idéia de uma anulação da percepção, ao passo que a exposta por
Freud mantinha a percepção, no contexto de uma negatividade: atualização de uma
percepção que consiste numa renegação.Do ponto de vista clínico, a polêmica
entre os dois homens revelou que faltava engendrar um termo específico para designar o mecanismo de rejeição próprio
da psicose: essa palavra, com efeito, não
figurava no vocabulário freudiano, ainda que Freud procurasse elaborar seu
conceito.
Embora houve um tempo polêmico e
diversas discussões em torno do termo, as coisas estavam nesse pé quando Édouard
Pichon publicou, em 1928, com seu tio Jacques Damourette,
um artigo intitulado:
"Sobre
a significação psicológica da negação em francês".
A partir da língua, e não mais da
clínica, ele tomou emprestado ao discurso jurídico o adjetivo forclusif
[foraclusivo ou excludente (do uso de um direito não exercido no momento oportuno)]
para expressar a idéia de que o segundo membro da negação em francês
aplicava-se a fatos que o locutor já não encarava como fazendo parte da
realidade. Esses fatos eram como que foracluídos.
O exemplo fornecido pelos dois autores não
deixou de ter certo humor, tratando-se de dois membros da Action Française.
Com efeito, eles mencionaram a citação de um jornalista, extraída do Journal de
18 de agosto de 1923 a propósito da morte de Esterhazy: "O caso Dreyfus,
diz ele [Esterhazy], é doravante um livro fechado.
Deve ter-se arrependido de algum dia
o ter aberto. Os autores sublinharam que o emprego do verbo arrepender-se
implicava que um fato que realmente existira fora efetivamente excluído do
passado.
E aproximaram a escotomização do
foraclusivo: "A língua francesa, através do foraclusivo [forclusif],
exprime esse desejo de escotomização, assim traduzindo o fenômeno normal do
qual a escotomização, descrita na patologia mental pelo Sr. Laforgue e por um
de nós [Pichon], constitui o exagero
patológico." (psicanálise)
Em 3 de fevereiro de 1954, Lacan
começou a atualizar a questão do foraclusivo e da escotomização, por ocasião
de um debate com o filósofo hegeliano Jean Hyppolite (1907-1968), ele próprio
confrontado com essa questão por intermédio da Verneinung,
a qual propunha traduzir por
denegação, em vez de negação. Lacan inspirou-se no trabalho de Maurice Merleau-Ponty
(1908-1961) Phénoménologie de la perception, e, sobretudo nas páginas
desse livro dedicadas à alucinação como "fenômeno
de desintegração do real", componente da intencionalidade do sujeito.
Na análise do caso do “Homem dos Lobos” publicada em 1918, Freud
explicou que a gênese do reconhecimento e do desconhecimento da castração em
seu paciente passava por uma atitude de rejeição (ou, Verwerfung)
que consistia em só ver a sexualidade pelo prisma de uma teoria infantil.
Para ilustrar sua colocação, ele
evocou uma alucinação que seu paciente Serguei Constantinovitch Pankejeff
tivera na infância.
Este "vira" seu dedo mínimo
cortado por seu canivete, apercebendo-se em seguida da inexistência do
ferimento.
A propósito da "rejeição de uma
realidade apresentada como inexistente", Freud sublinhou que isso não era
um recalcamento, porque um recalque é
algo diferente de uma rejeição.
Comentando esse texto em seu diálogo
de 1954 com Hyppolite, Lacan forneceu como correspondente francês de Verwerfung a
palavra retranchement supressão, eliminação. Dois anos depois,
retomou a distinção freudiana entre neurose
e psicose, para lhe aplicar a terminologia segundo a qual, na psicose, a realidade nunca é realmente
escotomizada.
Por fim, depois de comentar longamente a paranóia de Schreber e Lacan
passou a usar o conceito de “Nome-do-Pai” Lacan propôs traduzir Verwerfung por
foraclusão.
Compreende-se com isso que o mecanismo (psíquico inorgânico) específico
de estudo de caso de psicose (na psicanálise), aqui a ser definido é
a partir da paranóia (delirante), que consiste na rejeição primordial de um significante fundamental para fora do universo simbólico do sujeito. (Evitando
assim a inscrição da instância da Neurose).
Lacan distinguia o mecanismo do
recalque, sublinhando que, no primeiro caso, o significante foracluído ou os
significantes que o representam não pertencem ao inconsciente do sujeito, mas retornam (no real) por ocasião de uma alucinação ou um delírio (sem linguagem
neurótica, culpa ou remorso) que invadem a fala ou a percepção do sujeito*. *
(Psicose)
O conceito de foraclusão, (fora-clusão),
ora inserido nos estudos e em seminário de Lacan e é um referencial
para a investigação do inconsciente inominado do
(Psicótico) que ocupa um lugar não acessível pela via da “neurose” e
isso é um desafio ao psicanalista ou aspirante de psicanálise que se deparar
com o acolhimento para casos de Psicose.
Dr. Luiz Mariano
Fonte consultada / referências Bibliográficas:
História de uma
Neurose Infantil “ Homem dos
Lobos” Sigmund Freud – Volume: 14 Ed. Editora: Imago Standart – Versão tradução
Inglesa
Dor, J. (1991) - O
pai e sua função em Psicanálise. Jorge
Zahar Editor.
Lacan, J. (1985) - O Seminário. Livro 3. Jorge Zahar Editor.
Rabinovitch, S. (2000). A Foraclusão – Presos do Lado de Fora. Jorge Zahar Editor.
Lacan, J. (1985) - O Seminário. Livro 3. Jorge Zahar Editor.
Rabinovitch, S. (2000). A Foraclusão – Presos do Lado de Fora. Jorge Zahar Editor.