“O DESAMOR DO AMOR.”
O evitar amar de novo, ou mesmo errar sempre no amor não é
azar e nem é evitar envolver-se de novo para não sofrer novamente.
Isso pode-ser uma defesa, preservação e resistência que ao
longo do processo analítico vai se
descobrindo a quanto a pessoa pode estar sendo prejudicada e afetada em sua
qualidade de vida e prazer por ter essa questão não resolvida.
Essa sutil defesa e preservação só serve para não tirar o sujeito de sua imobilidade em seu narcisismo
primário e ostracismo edipiano inconsciente.
A psicanálise é essa ciência arte do inconsciente que cria a
possibilidade de tirar-nos de nosso ostracismo de modelos de relacionamentos
ruins com a descoberta da pérola interior do amor de cada um de nós.
Nas neuroses há sempre uma
busca incessante e insatisfeita para o tamponamento por figuras parentais e de
vivências edipianas e berçarias, é desse
contexto que surge futuramente vários modelos de relacionamentos na vida adulta com histórias de sofrimentos, ressentimentos
repleto de repetições e processos de somatizações.
O amor do narcísico apenas necessita do semelhante para se
re-afirmar em seu imaginário; como macho ou como fêmea, e isso para ele (ela) é
tão importante para si; Saber o quanto é belo ou bela, *só não sabe porque e
para quem ? * (complexo de Édipo)
O amar de um narcisista
é um tanto quanto é auto-suficiente, orgulhoso.
E nesse caso o semelhante ou próximo é um mero mecanismo de me
permitir ver a mim mesmo em duplicidade. (reforço) é uma tentativa de tamponar.
O Amar ou conviver com um narcísico (a) é mergulhar nesse
lago e se afogar em sofrimento enquanto o amado (a) fica apreciando seu corpo,
vaidade e pretensa beleza eterna vendo apenas seu próprio reflexo e sua temporal.
Enquanto o Édipo e o narcisismo primário não estiverem curados,
resolvidos terapeuticamente de alguma forma, não há nenhuma garantia de que a relação
amorosa por mais que seja prazerosa e saudável que dure sem adoecimento ou
desgaste emocional que a remete sempre a questões narcísicas e edipianas não
fechadas e não resolvidas.
O narcísico gosta tanto de si que o ódio dele vai em direção
ao semelhante disfarçado de muita educação, cuidado e sedução menos amor.
Sabe-se que não há prazer que valha a pena e que resista a
crise transferencial negativa de um Édipo mal resolvido, não fechado dentro de
um relacionamento a dois e quem dirá isso no clã familiar.
Os possessivos e ciumentos, fazem suas transferências edipianas
e parentais que são de ordem de sofrimentos e somatizações terríveis quando não
terapeutizadas e ressignificadas.
O amor do narcísico é uma ferida aberta, e eis que ao mesmo
tempo esse eu deseja a cura pelo amar, ele repugna o semelhante porque a cura
lhe vai tirar de sua cegueira da beleza eterna que espera por alguém faltante
ou faltoso no fechamento do édipo.
Esse “ostracismo” emocional narcísico só se permite enxergar
a sua verdade; Só ele tem valor e só ele (a) se reconhece na relação em seu
próprio ostracismo; e sempre usando o seu semelhante.
É tal como uma ostra que desconhece qual é o valor da sua
pérola, porque vive sempre só olhando para si, achando que é a única pérola do mundo, desvalidando todas outras possibilidades de alguém
amar além de si.
Para Lacan o inconsciente é o pensamento e a ação do “outro”
por isso na tentativa de amar sempre há uma preocupação em controlar o que o
“outro” pensa desse amor.
O gozo real só existe na instância do imaginário e não existe
(sem a intervenção analítica) a possibilidade de um significante desse gozo.
No anseio neurótico de amor as pessoas se apaixonam, se
casam, descasam e casam de novo porque acreditam em crenças e valores tais como
Deus, valores morais e princípios que nos levam a essa busca desse êxtase
maior., por não conseguir permanecer em seu labirinto neurótico sem a
referência do “outro”.
O amor é algo que deveria nos levar para além do pensar si,
essa sensação de presença mágica de amar nos torna sujeitos únicos de desejos
insatisfeitos, anseios e individualidade que quando não ressignificadas e não valorizadas torna-nos escravos e adoecidos de um amor patológico de algo
faltante que não sabe o que lhe falta.
Prof. Luiz Mariano M.D.
Ano: 20