A história da nossa
civilização humana é feita de “o amor e muitas paixões isso sempre foi um paradoxo
aqui tema de nosso estudo de psicanálise.
Lacan diz: O que falta ao amante é
justamente o que o amado não tem.
A construção dessa ponte ou desse analítico (um saber de mim,
autoconhecimento de si) é o encontro, um convite para investigar os fundamentos
do amor, vemos que o mesmo se apresenta, de várias formas que é quase a mesma
forma artística dos poetas que já sabiam disso em suas poesias.
Na psicanálise nem sempre o encontro da verdade com o saber não decifra
toda a verdade, até porque nós somos seres simbólico que nos expressamos e
existimos pela linguagem do insabido. .
E é nessa angústia do desejo de saber o que é o amor, que se esbarra com
algo indizível.
Por isso o que não pode ser dito ou escrito se converte como que numa
mágica em suposto amor, ou numa maldição de uma paixão.
Seria esse amor: “Um mal, que mata e não se vê”, em “um não sei quê, que
nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei por quê” como diz (Camões).
Amar e saber o que é Amar
ou se apaixonar são coisas distintas na psicanálise.
O Amar é um momento
bom que nunca se esquece; é reinventar-se para a Vida tomar novo sentidos na existência
do indivíduo do seu mundo, quem ama vê o mundo com um olhar mais adocicado e
vivo o amor.
Agora Saber o que é amar é impossível. Porque “quem ama nunca sabe o que
ama; nem sabe por que ama, nem o que é amar”
(Fernando Pessoa).
E nessa caminhada incerta que estamos diante da impossibilidade de saber
toda a verdade, então com isso fala-se muito de amor.
Isso é o que vem sendo feito há séculos.
O filósofo Platão, em O Banquete, retrata os lugares do discurso: o do amante e o do
amado.
O Psicanalista Francês (pós/Freud) Jacques Lacan (1901-1981) baseia-se
no amor grego para articular o par amante-amado com a estrutura do amor.
O sujeito que ama é aquele
que experimenta a sensação de que alguma coisa lhe falta na sua vida, mesmo não
sabendo o que é essa “coisa” ocupa o lugar de sujeito do desejo (amante); aquele que sente que
tem alguma coisa, mesmo não sabendo o que é, ocupa o lugar de objeto (amado).
O paradoxo do amor reside justamente no fato de que o que falta ao
amante é precisamente o que o amado não tem. (Lacan)
Se a pulsão de Eros
nasce de uma aspiração impossível, que se deseja de dois fazer um, uma
unicidade do Amor. Nos seres humanos inventaríamos o mito do amor,
sustentado na promessa de felicidade eterna para ambos, e para isso nesse jogo
do amar, vale quase tudo.
E, enquanto isso não vem (o amar e amar) o bem se transforma em mal,
inaugurando uma escola de amor infeliz chamada “Paixão” e é nas paixões que
temos as inscrições de incertezas, medos, infelicidade, carência afetiva,
faltas, questão do Édipo não resolvida adoeceu e quase tudo em nome dessas
paixões
Nessas paixões muitos líderes
políticos e religiosos também podem se usar desse expediente para manipular a
direção de seus subordinados para obter seu gozo perverso do poder.
Freud e a teoria da Sexualidade Humana
Em O Mal estar na Civilização, Sigmund Freud (1856-1939) adota a versão do amor que se encontra no poema “Sobre a Natureza”, do filósofo grego Empédocles (490-430 a.C.):
Eros é uma força que
tende para a unificação.
Freud em seu escrito As Pulsões e Suas Vicissitudes (traduzido
em português por Os Instintos e Suas Vicissitudes). O pai da
Psicanálise cria o conceito de pulsão para construir uma teoria da sexualidade
humana: as pulsões são os representantes psíquicos de estímulos internos, (individuais
de cada sujeito) isso se situando no limite entre o psíquico e o somático, (entre
o Corpo e a Alma) e a essas se apresentam divididas em pulsões sexuais e
pulsões do eu (pulsões de autoconservação/preservação).
As pulsões sexuais infantis (oral, anal e genital) (Eros e Tânatos) são constituídas
por quatro elementos (impulso, fonte, alvo e objeto), passam por quatro
processos de transformação: reversão a seu oposto, retorno em direção ao
próprio eu, recalque e sublimação.
A reversão o seu
oposto caracteriza-se pela transformação do Amor em Ódio.
Essa transformação a que se refere aqui é um tanto quanto o tempo
arcaico, regido pelo auto-ergotismo que têm suas origens em nosso (narcisismo primário) o qual também é
dividido em duas fases.
Primeira fase, as pulsões do (Ego) e
as pulsões sexuais têm o mesmo alvo, porque ainda não se separaram: é a
satisfação autoerótica.
Sob o domínio do princípio de prazer, constitui-se um eu primitivo,
interessado pelo que lhe dá prazer e desinteressado do que lhe dá desprazer.
E é nessa
indiferença, nomeada de “repúdio primordial do ego narcísico” que se inaugura o
ódio e o sujeito passa a precisar de um objeto.
Na segunda fase, o ego sai da sua realidade
e pode ser transformado em Ego do prazer purificado (sem culpa e sem pecado).
O Neurótico assim
consegue realizar a distinção entre o fora e o dentro pela via da fantasia:
Via de regra o que causava desprazer e era odiado é expulso do próprio
corpo, passando a constituir, então, o campo dos objetos; o que causava prazer
passa a ser amado e, como tal, incorporado ao próprio corpo (prazer).
É importante
ressaltar que a precedência do ódio sobre o amor está diretamente ligada às
suas fontes primárias e maternais e do complexo de (Édipo).
O ódio nasce sob o domínio do
princípio de prazer e o amor inaugura-se no momento em que se constitui a
pulsão ao princípio de realidade do sujeito.
É dessa fusão do amor ao ódio que se resulta no ser humano a capacidade
e força da primeva do amor, nascem assim à ambivalência a que todos estamos
sujeitos a períodos de (amor / ódio).
Sobre o Narcisismo:
uma Introdução, Freud aborda o
amor a partir da escolha de objeto.
Nós seres humanos “neuróticos” temos sempre dois objetos sexuais (Pai e
Mãe) eles desempenham as funções simbólicas de alimentação e de proteção a que
desejamos e buscamos por toda nossa vida.
Em função disso,
temos sempre duas escolhas:
A narcísica e Analítica.
(Na analítica o sujeito descobre que é responsável por si, na Narcísica o
sujeito é responsabilizado para ser um “Objeto” e não um sujeito / indivíduo
por si.
Na escolha narcísica,
ama-se o que se é normalmente (a si mesmo) e ou / o que se foi ou o que se gostaria de
ser.
Aqui, o objeto é amado com a mesma intensidade que outrora o ego do
prazer fora amado no auto-erotismo.
Na escolha analítica,
Ama-se a parte do eu que foi renunciada e transferida para o objeto,
fazendo com que o objeto seja revestido das funções materna e paterna: a mulher que alimenta ou o homem que protege.
Sigmund Freud retoma, em Psicologia de Grupo e Análise do Ego,
a escolha do objeto amado pelos mecanismos de idealização e de identificação.
Na conceituação da idealização haverá o engrandecimento do objeto e a
identificação pela forma mais arcaica de laços afetivos com o objeto. (Édipo)
Esse ideal será o investimento (amor) o ego vai à busca do objeto o que implica
não só o empobrecimento desse Ego, mas também a sua ligação com o objeto, mesmo
depois da perda ou do abandono.
A questão da separação é vivida como uma espécie de espedaça mento do
objeto amado, fazendo com que o Ego experimente a dolorosa sensação de que uma
parte de si mesmo foi arrancada para sempre é um fim e não o “Fim”.
Com isso na identificação, a perda ou o abandono do objeto leva à
incorporação de suas propriedades pelo ego.
Assim, nessa conceituação de idealização, o objeto é colocado no lugar
do ideal do Ego, e, na identificação, o objeto é colocado no lugar do seu
próprio Ego. (Os perigos de Paixões Ciumentas e possessivas).
Com isso o “sujeito”
que dizia ou se declarava “amar” ingressa com seu “Objeto” no reino da paixão
(Narciso), onde o amante, encantado pelo “objeto amado” é levado à escravidão
emocional ou sexual ou servirá de algum um tipo de servidão perversa sem limite
e sem ética ou compaixão.
A paixão é cega e nessa
escuridão da paixão, o enamorado pode inclusive ser arrastado ao impulso do
crime * (Pulsão de Morte) isso por não corresponder ao imaginário do meu amor.
A perda do objeto da
paixão converte o amor em ódio (em segundos) fazendo com que o desejo de posse se transforme em desejo de destruição.
Para Lacan, em seu projeto de retorno à obra de Freud, faz questão de
enfatizar que é preciso distinguir entre
o amor como sentimento da paixão e o amor como dom ativo.
O amor como paixão inscreve-se no plano
das relações imaginárias, nível das relações especulares, em que as imagens
do eu e do outro se confundem.
Ao se inscrever no
plano das relações “imaginárias” de cada um de nós a pergunta é o que será que
falta ou sobra nessas relações imaginárias de cada um nós (Édipo).
O amor é um dom ativo
inscreve-se no plano das relações simbólicas, dimensão da palavra, cujo
registro é o da verdade, da mentira, da equivocação e do erro, quem ama terá
que se assujeitar-se a tudo isso
A paixão visa ao “Outro”
como “Objeto” e o amor visa ao “Outro” como sujeito tendo sua individualidade.
Nas paixões não
“interessa” a individualidade para aquele se declara amar.
Na paixão, sempre há
as exigências de provas de amor das mais bizarras, violentas e agressivas.
E nessa lista de
exigências das provas de amor, quase nunca o apaixonado se dá por satisfeito, porque não se trata
de ser amado, mas, sim, de querer ser amado do modo pelo qual se “imagina” que se deva ser amado.
Qualquer particularidade do outro amado tem de ser apagada para que se
mantenha a fantasia de que de dois se faz um.
E nesse embrolho ao fracassar o sonho de amor, torna-se a causa do
sofrimento de amor, o qual se transforma em ódio de si mesmo e do outro.
Na paixão, amar é querer apossar-se do objeto, capturando-o; e o odiar é
querer desvencilhar-se do objeto, aviltando-o ou o destruindo se ele não
corresponder ao meu imaginário.
Lacan afirma:
“O ódio não se satisfaz
com o desaparecimento do adversário”.
Para isso não vai bastar o exílio, a prisão, o assassinato; é preciso a
injúria para denegrir o ser do outro
odiado.
Se não se pode eliminar a existência do outro odiado na linguagem, o
caminho da difamação é a via pela qual se tenta associar um nome à indignidade
e à vilania.
Um terceiro elemento
é acrescentado ao par amor-ódio:. a ignorância
O desejo de não querer saber está para a paixão assim como o desejo de
querer saber está para o amor.
O amor como dom ativo está para além da fascinação imaginária, porque se
dirige ao ser do outro em sua particularidade e respeitando seu sujeito.
Talvez esse seja um Amor ideal; um amor que se inscreve no regime da
diferença, onde dois não fazem um, mas dois continuam sempre dois.
Em seu Seminário 4: a Relação de Objeto.
Lacan aborda outra modalidade do amor, aquele concebido como recusa do
dom e situado em torno do que o objeto amado não tem.
Três elementos entram
em cena: amante, objeto amado e para além do objeto.
O que se ama está para além do objeto.
E o que estaria nesse além senão a própria falta?
Lacan diz que o dom dado em troca não é nada:
“o nada por nada é o princípio da
troca”.
Na dialética da recusa do dom, o sujeito sacrifica-se para além daquilo
que tem.
Então, amar é dar o
que não se tem, e o acento está no amor, não no objeto amado.
Esse acento comparece
no amor cortês (o trovadorismo dos séculos 12 e 13), na concepção barroca de
amor, em Fernando Pessoa.
O que se ama é o
próprio amor.
“Na
psicanálise amar é incompatível com a Paixão, a primeira precisa de um sujeito
para preencher a falta e tentar transformar dois em “Um” isso é missão
impossível e a outra (narcísica) precisa apenas de um mero objeto para exercer
seu narcisismo e seu amor imaginário faltante”
Dr. Luiz Mariano
M.D. Psicanálise
Clínica do Acolhimento de Escuta do Inconsciente
Site do Consultório: www.drluiz.com
Fonte
Consulta e Referências: Psicologia
de Grupo e Análise do Ego (Freud), O Banquete (Platão), Mal Estar na Civilização (Freud), Seminário 4 J. Lacan