Carnaval e Psicanálise
“Tudo que é profundo ama a máscara”
NIETZSCHE
O Carnaval está presente nas origens gregas de
nossa civilização ocidental. Era uma festa profana de culto a fertilidade,
comemorada com sexo e vinho, em
reverência ao deus Dionísio.
O espetáculo carnavalesco carrega consigo uma
história, traz na bagagem máscaras e
fantasias de um mundo subjetivo que se revelam e ganham expressão nessa
manifestação cultural, com o lema “tudo é permitido, o carnaval é de todos, e
para todos!”
O carnaval provoca uma quebra na ordem social e
permite uma inversão de papéis e valores.
Esse período é representado pela mistura de cores,
classes sociais, diversão e cultura.
Brincando com as instâncias
psíquicas, poderíamos dizer que o Id se solta.
Arromba a porta do porão, salta pra fora e vai pra
folia, arrastando consigo o Ego, que num
primeiro momento resiste, mas depois acaba aderindo a festa.
A festa do carnaval é considerada a manifestação
popular por excelência e o lugar privilegiado da expressão do realismo
grotesco. Na percepção carnavalesca assiste-se
uma subversão das fronteiras entre o real e a fantasia.
Dentre os elementos explorados na festa,
encontramos o riso.
O riso é festivo, universal,
todos riem e permitem rir-se de tudo e de todos.
O riso grotesco exalta o “tempo alegre”, que
participa no espírito da festa, mas também
carrega o tempo da metamorfose, soberano, onipotente e mensageiro da morte.
Lembremos do poeta Frejat que diz
que “rir de tudo é desespero”.
No regime alegre carnavalesco, tudo é transitório,
os corpos estão em permanente transformação flertando com o perigo e o
proibido.
O prazer entra em cena, marcando
a satisfação do desejo, contrapondo à dor e ao tédio.
O carnaval parece ser uma licença poética do
comportamento, um escapismo.
Nesse momento as fantasias dão asas aos actings
outs, parecendo tudo justificado pelo clima dionisíco do carnaval.
A máscara está longe de ser
apenas um adorno de carnaval, ela tem um valor catártico.
É um extravasamento, uma liberdade durante os dias
de festividade, das rotinas cotidianas e da estagnação habitual.
Como diria Vinícius: “a gente trabalha o ano
inteiro, por um momento de sonho, pra fazer fantasia de rei ou pirata ou
jardineira, pra tudo se acabar na
quarta-feira”.
Ainda no clima de brincadeira com as instâncias
psíquicas, vou chamar o Superego que, embora tenha se deixado levar aos
exageros dos companheiros Id e Ego nesses dias de folia, renascerá das cinzas e, com um olhar de superioridade, confirmará que
voltaremos a sambar ao som das angústias do cotidiano nos próximos meses.
Prof. Fabiana Taques
Fonte consultada: http://itipoa.com.br/carnaval-e-psicanalise/