“A Angustia e a Resistência para o Saber e Amar”
Embora na psicanálise quase
nada seja “objetivo” racional ou consciente neste artigo oportunizo-me escrever-lhes
uma reflexão de nossas vidas e acho que muito de nossa angustia “inconsciente” é também uma forma de resistência ao amar e ao
saber; Saber de um novo caminho; aonde vamos descortinando à medida que nos
permitimos ler e “pensar” a vasta literatura psicanalítica freudiana e
lacaniana que nos leva a repensar nossa própria vida.
Para muitos de nós mudanças como:
uma casa nova, trocar de carro, trocar de amor, mudar escola, mudar para outra
empresa, mudanças de regras e normas no ambiente de trabalho ou religioso geram
angustia e resistência.
Mesmo a mudança de cargo ou às
vezes mudança para outra cidade ou até país tudo isso nos envolve num processo
de angustia e resistência.
Na psicanálise até mesmo simples
eventos pode nos fazer entrar em processo de sofrimento neurótico e devido à resistência.
Para nós “neuróticos” que pretensamente
achamos que somos bem normais o fato de abraçar o novo implica; em abandonar algumas
idéias, se envolver com novos paradigmas, às vezes é preciso esfacelar preconceitos
morais e religiosos.
E esse é um momento humano de
muita crítica, inércia e nós somos na maioria das vezes muito críticos quando
nos defrontamos com possibilidades de sairmos da nossa inércia para novos
paradigmas do pensamento humano.
Qualquer mudança na rotina
confortável passa ideia ao nosso inconsciente que temos que sair da nossa
inércia do “Pensar” repetitivo, das nossas expectativas emocionais “repetitivas”
e usuais diárias, isso por si já gera angustia e resistência.
Não é muito fácil lidar com o
universo dos pensamentos e emoções humanas, e quando nos dispomos a lançar-se nessa
nova empreitada a expectativa de mudanças gera onda de angustia e resistência.
Isso nos dá uma sensação de ir para o encontro com o desconhecido e com isso ficamos
se sentindo incapacitados, insatisfeitos,
infelizes e resistentes.
Isso vale também para a receita
dos que buscam o saber coloquial da psicanálise.
Quem não se angustiar e não tiver resistências por enfrentar em sua análise não
pode se autorizar nunca psicanalista.
A angustia acompanha a
humanidade desde os tempos adâmicos e pré-históricos ela é a responsável por
nos colocar em movimento, para o progresso e desenvolve da nossa criatividade como
humanos.
Mas quando nossa “angustia” não
nos coloca em movimento, ela nos estaciona na inércia mental do pensar criando
inúmeras possibilidades de adoecermos em nossos sintomas.
É normal e comum que alguns
candidatos ao percurso de psicanálise tenham essa “angustia”, alguns pacientes
de “análise” também podem oportunizar que sua “angustia” no processo analítico poderá ser
pontuada, interpretada e confrontada para permitir o sujeito em “análise” faça uma
ressignificação do seu viver e do seu pensar.
No coletivo, muitos de nós agimos
de forma imprudente e às vezes quando somos críticos e negativos podemos
liquidar a nossa raposa. Fazendo aqui a referência lenda da raposa e o lenhador
que foi apresentado em módulo do curso de psicanálise.
Agimos de forma extremista para
com o sujeito que nos leva para uma luz de algo desconhecido de nossa Alma, que desnude o real do nosso desejo desconhecido
ou tamponado.
Descobrimos na psicanálise, que
nem sempre “desejo” é desejo de amar; e que muito de nosso desejo pode ser
desejo de vingança, ódio e de falta edipiana.
A Psicanálise é a ciência
“arte” de repensar tudo que já foi pensado do “sujeito” que se “sujeitar” a
análise.
A Psicanálise é algo que
tira-nos nosso “aparente sossego”. Ela tira-nos do nosso habitáculo (resistente
e protegido) do comum e do diário.
Com isso nos coloca em
movimento de encontro a nossa própria Alma sem nos vincular a alguma religião,
a psicanálise desloca nossos “pensamentos”
do inconsciente para a fala.
A psicanálise nos põe a
repensar e ressignificar nossos ódios e nossos amores.
A Psicanálise é uma entrada “solitária”
em nossa “Alma” não num sentido religioso ou místico. Mas ao fazer “análise” o
sujeito cria um caminho para descobrir onde residem suas “verdades que nem sempre
são tão verdades” porque elas podem ser ressignificadas.
O sujeito em análise aprende a simbolizar
seus sintomas pela fala e falando é que vai oportunizar ao seu inconsciente revelar-se
sem a necessidade da posteridade da culpa, punição ou a justificativa que somos
fruto do pecado por isso necessitamos de salvação.
Lacan fala que para irmos a “análise”
é necessário que o nosso “sujeito” se desconstrua. E em análise, isso
acontecerá gradativamente nas sessões, mas exige tempo muita coragem,
dedicação.
Nós temos muito medo daquilo
que nos encaminhe para encarar a nossa faltar ou oque falta-nos, esse é o medo
de muitos o medo do “insabido” do mim mesmo.
A Psicanálise é uma travessia onde
descubro quem sou eu, e para isso a priori temos que vencer a nossa resistência
e a nossos afetos de questões parentais e do Édipo.
A psicanálise é um caminho incerto,
subjetivo e desafiador da verdade “insabida e improvável” de cada um de nós.
Ela nos leva, a saber, que cada
um de nós é responsável por seu próprio destino e verdade.
Nesse “percurso” psicanalítico será
permitido a escutadores degustar o saber do sabor do pós angustia.
A Psicanálise não é uma nova religião
e nem uma filosofia, porém ela pode-nos da uma nova chance para nosso “pensar e
sentir” criando possibilidade de mudanças para sua vida ressignificando nosso
pensar e nosso amar e ser amado (a).
Evidente nem sempre haverá tanta
clareza e racionalidade no percurso da análise, a “análise” é sempre complexa e
subjetiva.
Alguns às vezes preferem se
afastar, estar cegos pontos de “recusar-se”
a vivenciar uma espécie de maldição desconhecida que a literatura da Psicanálise
parece nos lançar sobre nosso sujeito que estava “estático suposto saber do
Outro”.
O processo de análise pode ser sim
dolorido e desconfortável mas só no mundo do nosso pensamento.
Não é nada fácil saber que
tenho que reparar mais em minhas ações, meus pensamentos, em minhas emoções,
afetos que até então pareciam estar todos certos (de sua razão) em sua rota de
ódios certeiros e amores errados.
A análise leva o “sujeito” a descortinar
que saber de “eu” nem é tão doce e nem tão azedo que não possa ser suportado e
ressiginificado.
Com isso olhar e meu julgar
severo para com o “Outro” é errante.
Porque errante?
Porque na “Psicanálise Lacaniana”
quem é o “Outro” o outro sou “Eu” mesmo que sou refratário do meu sujeito em “carência
e falta” responsabilizo a imagem do “Outro” pela minha falta, pela minha
relutância em não admitir a mim mesmo que não posso ser o julgador do mundo,
julgador do Mestre, julgador das religiões, julgador das escolas, julgador das
pessoas.
Julgar o “Outro” é oportunizar afastar-me
do meu julgamento que me condena não pelo “Outro”, mas por mim em minha falta
edipiana.
Se afastar do saber
psicanalítico, vai nos dar a sensação de se afastamos de algum tipo de maldição
prévia em nossa vida.
O saber do coloquial de
Psicanálise é esse saber que sugere fazer muitas mudanças e a maioria de nós
não gosta de mudanças reais, mas sim de mudanças de máscaras, mudanças de salas
e sempre falando do outro e não do meu real do sujeito.
A maioria de nós não gosta ou
temos suficiente força para efetivar mudanças de que cada um de nós precisa.
Na psicanálise em todo seu
percurso as mudanças mais significativas e sensatas, quase nunca viram pela lei
do menor esforço, do menor preço e do caminho mais curto.
E ao afastar-me de “Mudanças em
Mim” na psicanálise isso é resistência e é rejeitar-me para um novo saber do
meu “Eu”.
Um novo saber que não me agrade,
como descobrir que posso não agradar a sempre meus (Pais) ou como eles me
agradariam ou criticariam meus “outros” na minha Infância.
Quem cresce sob. O olhar da
crítica negativa bloqueará sua mente a qualquer novo saber pelo gozo da crítica
dos “Outros” seja esse outros: O mestre, o professor, o Juiz, a Lei ou até a
Presidenta da República.
A crítica negativa na maioria
das vezes não esclarece nada e não nos leva a lugar nenhum que não ao recalque
do sujeito.
Esse lugar do sujeito em “análise”
é um lugar do vazio e da “falta” na estrutura psíquica de cada um de nós.
Na psicanálise lacaniana o
sujeito é desconstruído para aprender a lidar com o bem e o mal.
Na psicanálise freudiana o
sujeito se defrontará com suas neuroses para aprender a viver de forma em que
suas representações neuróticas não derivem em sintomas que desgastem a sua
sanidade, saúde e prazer.
Falta sempre algo para cada um
de nós.
E para justificar essa falta,
me utilizo da crítica negativa para chamar a atenção, e buscar inclusive
aliados que representaram a “minha falta” para mim (Édipo).
A travessia da psicanálise serve para me tirar
da mesmice da rotina e me por a andar entre desconhecidos e estranhos do meu
próprio inconsciente.
Não é à toa que pessoas diferentes
têm respostas diversas e diferentes a gama e possibilidade de mudanças.
Reconhecer o valor do ambiente e
saber se ele tornou-se familiar é extremamente pessoal. Depende da sua história
particular naquele contexto, das suas experiências, das suas memórias formadas
ali, enfim, do valor associado ao que se está deixando.
Para uns, deixar para trás uma
escola onde se era oprimido pode ser um alívio; para outros, que conviviam bem,
pode ser um abandono forçado do que foi a segunda casa.
Se as lembranças despertarão
saudade ou, ao contrário, a sensação de “já vai tarde”, é simplesmente reflexo
das experiências pessoais de cada um. (Recalque
x Édipo).
Mas a resposta ao novo também depende do que temos como bagagem de nossa
infância e berço, também é dessa instância que vêm nossas resistências
insabidas.
Freud mudou o pensamento humano
quando inventou a que há possibilidade do inconsciente (existir) e que sua
estrutura id, ego e superego têm muita influência na vida de cada um de nós.
Freud se utilizou de lendas e mitos para justificar a dinâmica do inconsciente
humano através das histórias, lendas e seres mitológicos.
“A mitologia na psicanálise é
uma forma de sublimar de dizer a “verdade” humana com menos azedo” de modo que
a mesma não pode ser encarada de forma nua e crua, porque não aceitaríamos e
não compreenderíamos muitas verdades em nossa civilização se não fossem os
mitos, os símbolos e as parábolas.
Lacan diz que somos seres simbólicos
que nos inscrevemos através da fala, e Lacan nos oportuniza a possibilidade de
pensar e filosofar a psicanálise descortinando os complexos familiares.
Um dos requisitos para conhecer
essa “Verdade que pode libertar-nos de nossos; medos exagerados, nossas culpas
e livrarmo-nos das constantes auto-sabotagens é acolher os pensamentos e sentimentos
“esquecidos e recalcados” em “análise”.
Assim vamos descobrir o quanto
somos fortes e nos permitimos ser enfraquecidos pelo medo, pela culpa e nos
punimos no desamor.
Permita apenas que a “análise”
seja seu momento de associação livre que o leve ao reencontro consigo mesmo.
E se a porta da “angustia” bater,
abra não para alimentar o adoecimento, ou a inércia do penar para os sintomas,
mas coloque-se em movimento e ponha seus sintomas para falar e repensar.
A angústia (em análise) é para dar
asas necessárias para “neurótico” saber que seu inconsciente pode permitir-lhe voar
em liberdade, sem medo, sem culpa para a possibilidade da felicidade.
Com o passar do tempo verá que a
maturidade do pensar abrirá novos caminhos e esperança para seu ser emocional amar
melhor e ser saudável para uma vida feliz.
O neurótico necessita da “angustia”
para amar e busca a simbolização do seu “Amor” no seu imaginário, nisso ele
sofre, adoece e faz seus sintomas para sobreviver para seu “amor ou ser amado”.
“O psicótico não busca seu
“amar ou amor” porque não o têm em sanidade infantil parental e lhe falta o
imaginário do “neurótico”, para o psicótico fica faltante os símbolos do
neurótico dos “objetos” para o amor e “amar” por isso ele aparenta não
necessitar de ser amado” e isso o remete direto a um “Real” na sua psicose.
O Psicopata não é objeto de “análise”
terapêutica e provavelmente ele nunca poderá amar porque só pode amar quem sente
angustia, culpa e remorso.
Prof. Dr. Luiz Mariano
M.D.
Psicanálise Clínica
Fonte de
Consulta e bibliografia recomendada:
“Freud
Conflito e Cultura” – Michael S. Roth - Editora
Zahar
“Estilos
do Xadrez Psicanalítico” – Editora:
Imago
“Os
Complexos Familiares” – Lacan – Editora Zahar
LACAN,
Jacques. O Seminário – Livro 3 – As psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor. 1985.