O Ciúme
É
o Veneno Residual do Édipo Para Nossos Relacionamentos
Apesar de muitas pessoas acreditarem que o ciúme é o tempero da paixão ou do amor, devemos lembrar que até o uso de
tempero tem contra-indicações e o desconhecimento da medida pode intoxicar, no
nosso caso aqui intoxicar as emoções, destruir a auto-estima.
E saiba-se também que o tempero que é bom para uns pode ser veneno
ou até causar alergia emocional e ser letal para outros.
O ciúme no sentido analítico coloquial não é de cuidado com o
“outro”, mas o de cuidado com a minha “posse” com a aproximação de algum outro
que não faça parte desse meu “objeto primevo/faltante” de paixão ou amor.
Quem convive com um ciumento (a) tem que ter cuidado, e estar
sempre alerta.
Já tive pacientes que desenvolveram no casamento, síndrome
do pânico, pelo fato de ter que estar sempre alerta as suas vestimentas, a quem
a olhava, a quem a cumprimentava, algumas delas desenvolveu a síndrome do
pânico como mecanismo de defesa e de sobrevivência ao marido e namorado que era
possessivo ciumento.
E cada mulher pode reagir de forma diferenciada e sublimada ao
ataque de um ciumento.
A grande certeza é que algumas agressões emocionais, psicológicas
repetitivas e intensas e até físicas podem produzir toda uma gama de sintomas e
cicatrizes para sempre, impedindo a pessoa de ter relacionamentos saudáveis e
prazerosos.
A angustia que o “Ciumento” sente pode ser originaria de fatos
muito mais complexos da sua estrutura psíquica dentro do seu clã familiar e
advém de suas origens e aqui vamos dispensar comentários ou detalhes quanto à
possibilidade de influências radicais de alguma cultura ou de alguns dogmas
religiosos.
Para o ciumento o fato de pensar ou imaginar a possibilidade de
perda, perda de vista, perda afetiva, perda em meu pensamento ou o extremo que
é a perda do controle do “acho” que é meu (Objeto) amor, isso pode me levar ao
comportamento hostil; agressivo e alguns partem de fato para as chantagens
emocionais, morais e inclusive são violentos.
Ao longo de quase vinte anos atendendo, senhoras, mulheres, mães e
jovens pude perceber o quanto estavam adoecidas e somatizadas por conviverem e
suportarem por anos o convívio dentro de um relacionamento psicopatológico com
algum ciumento.
Mas então se declaro meu “Amor” ao “Outro” como posso em fração de
segundo passar a “Odiar” alguém que amo.
Primeiro deveríamos compreender que a distância psicanalítica da
instância do Amor e do Ódio é de apenas um (pingo) um ponto. Até porque grande
maioria dos ciumentos são narcísicos.
O sujeito ciumento mesmo que "neurótico" pode passear a
seu favor pela psicose, psicopatia para manter-se ciumento porque seu “objeto”
de ciúmes não é tão completo e perfeito como seria simbolicamente sua primeva
mãe.
Só que na maioria das vezes o sujeito “Ciumento” não quer admitir
isso e muitos fogem de qualquer possibilidade de mudanças, ajuda religiosa,
algum tipo de psicoterapia ou mesmo sujeitar-se a fazer análise.
O ciúme, para alguns relacionamentos pode parecer normal ou
corriqueiro, mas não é; o ciúme pode ser uma psicopatologia abstrata de nossa
Alma e suas origens estão em nossa criação, infância e complexo de Édipo.
Lacan psicanalista francês já dizia que “Amar é Dar o que não se
têm A quem não o Quer.”
O fato de declarar minha paixão ou declarar meu amor a alguém não
significa que essa pessoa (objeto) dessa minha paixão ou amor, tenha a
obrigação o dever de corresponder de imediato a todos meus desejos, demandas
afetivas da minha imaginação ou de meu “objeto/primevo faltante”.
Normalmente a referência que tenho de que; Quem tem que
corresponder a todos meus desejos e necessidades estão muito ligados ao seio
maternal e nossa mãe simbólica.
Os ciumentos “Homens” sua demanda e conflito simbólico é com a
figura e o seio da “Mãe”.
As ciumentas sua demanda simbólica e conflituosa é pela autoridade
do “falo” isso é com a figura de pai e algumas vezes para atingir e rivalizar a
“Mãe”.
Ainda temos mais um agravante a esse fator que digno de análise; é
achar um ponto de equilíbrio o que é bem raro e difícil. Pois essa simbolização
necessária de “Pai e Mãe” ainda há de se investigar se esse “Pai e Mãe” foram
ou são excessivamente presentes e excessivamente faltantes no complexo de
Édipo.
Se forem “pais” que deram muitos presentes e foram ausentes, ou se
a “mãe” por muitas vezes desautorizou e desqualificou o pai simbólico dessa
“criança”, Infelizmente a muitas que nem nomeiam o “Pai”.
Dentro do clã familiar é preciso relembrar como foi à divisão
dessa afetividade se foi positiva ou negativa. Como no clã familiar estavam às
posições dos irmãos e irmãs, quase sempre teremos histórias daqueles que
tiveram demais e de menos.
Alguns “ciumentos” sempre se justificam: - Dizem só saber amar
assim, com ciúmes.
Mas quando se sujeitam a análise e com o tempo eles descobrem que
estão em busca de algo “faltante” e que toda sua fúria e ataque de ciúmes é uma
forma de descontar em quem se ama o seu objeto/primevo “faltante”.
Os ciumentos conseguem vigiar diuturnamente a pessoa que ama,
alguns até obtém um prazer “perverso” procedendo e criando situações, para
correr o risco imaginário de serem traídos.
Embora na psicanálise clínica; a
traição não justifica o ciúme e vice e versa.
Alguns casais, mesmo após separarem-se por conta do ciúme,
continuam cultivando intrigas, brigas como se ainda a outra pessoa ainda
fizesse parte de sua vida, nesses casos mesmo que se “casem” de novo as crises
irão continuar nos "próximos relacionamento" e o pior é serem
inclusive repassadas aos filhos como modelo de "que amar" é assim.
Para casais assim; cada possibilidade de reencontro dá pra
perceber que o mal possessivo do “outro” ainda está aí presente.
São incapazes de desfazerem-se do “direito de posse” do “outro”
que na realidade seu real objeto é faltante e remendo do resíduo de seu Édipo
não está resolvido.
Na psicanálise coloquial às vezes vamos na contramão do que se
pensa do que se acha que é amar e ser amado.
Achar que o amor a tudo tolera do outro dentro de um
relacionamento é enganar-se a si mesmo e alvejar sua saúde e Alma para sempre.
A paixão pode nos fazer suportar, e diante de algumas “paixões”
ficamos sem auto-estima, ficamos cegos e indefesos. Nisso o ciumento faz com
que seu “objeto” de amor suporte todo tipo de maus tratos em nome de um
pretenso “Amor” macabro.
A instância sublime do “Amor” fica para alguns como algo
inatingível e não autorizado, ou que não me permito. Quem acha que ama e
convive com um ciumento, depois de algum tempo de análise vai descobrir que
nunca foi de fato amada ou amado.
Só pode realmente “Amar” quem se permite a felicidade sem a
necessidade do “Outro” só ama quem confia naquilo que sente mesmo estando
sozinho (a).
Só pode realmente amar quem respeita a si mesmo e quem têm
auto-estima.
Na maioria das religiões, filosofias e crenças o “Amor” é uma
fonte positiva e abundante de equilíbrio, prazer e saúde e não uma fonte
carente, seca e macabra.
Nenhum tipo de agressão ou maus tratos pode ser visto com algo que
é “ótica de que amar é assim”.
Pois se assim pensarmos e agirmos a humanidade estará fadada a
desaparecer, seremos seres sem alma, adoecidos e sem prazer algum.
O sujeito ao sujeitar-se a “análise” psicanalítica coloquial
poderá descobrir que o real do seu desejo nem sempre foi ou será amar e ser
amado por questões que não foi ressignificadas em seu Édipo.
Na análise continuada algumas questões esquecidas de nossa
sexualidade infantil, revendo algumas referências da nossa criação saberemos
que agentes invisíveis criam muitos de nossos sintomas inorgânicos e
somatizações atuais.
Ao sujeitar-me a análise gradativamente enfrentarei o
“desconhecido do meu Ser; O desconhecido do meu desejo” nessa “travessia”
haverá pontuação, interpretação e confrontação que pode levar o sujeito a
ressignificação do seu sintoma e do seu calço neurótico.
Lacan diz que na maioria das vezes para existir uma análise o
sujeito em análise vai passar por uma desconstrução.
Freud afirma que fica forte uma pessoa que está segura de ser
amada.
Asseguro que ninguém poderá conhecer a instância do amor se
permitindo ser vítima da sagacidade do ciúme.
Prof. Dr. Luiz Mariano
/ Psicanalista Clínico
Coordenador do Percurso
Multidisciplinar Livre de Psicanálise da ABMP-DF & Parcerias