Na antiguidade, os reis costumavam convidar pessoas para servi-los e exigiam morassem nos palácios. Esses moradores do palácio tinham de um tudo enquanto serviam ao rei, mas depois que, por alguma razão, deixavam o serviço real precisavam contar com a caridade alheia para arrumar outro emprego ou mesmo para sobreviverem.
Assim, alguns embora desempregados e
mesmo estando aptos ao trabalho preferiam se juntar aos “mendas”, ou
seja, aos legítimos portadores de alguma invalidez para o trabalho e
sorrateiramente praticavam a mendicância, aflorando o mendigo inato ou
orgânico.
Desde então, quando se ouve a palavra
“mendigo” imagina-se pessoa pobre, maltrapilha, moradora de rua, sem estudo,
que fica com a mão estendida ou bate na janela de seu carro para pedir-lhe uma
moeda ou qualquer outra coisa. Este é o mendigo habitual, tal qual aprendemos.
Eles são sinceros, pois se apresentam tais como estão e merecem atenção.
No entanto, há aquele outro tipo de
mendigo: o orgânico. Diferente do tradicional que é vítima de uma situação
adversa e desfavorável, o segundo tipo é aparentemente rico, se veste bem, mora
bem, tem cultura, porém, está sempre com as mãos (ou a língua) estendidas
pedindo esmola, não por necessidade, mas por deficiência de dignidade e por
serem moralmente inválidos. Pedem por desafeto próprio, não por eventual
miséria.
Pode-se perceber a retidão de caráter
no mendigo original ou no circunstancial pelo notório constrangimento enquanto
pedem o pouco que precisam. Já no mendigo orgânico nota-se evidentemente a
ausência de qualquer acanhamento em seu eloqüente e mendicante discurso. Ele
não quer desconto, ele quer de graça para viver boa vida sem digno esforço.
Ao contrário do consumidor consciente
que embora saiba negociar uma boa e legítima redução no preço para pagar pelas
coisas das quais de fato precisa adquirir, o mendigo orgânico é sovina e
inconveniente. O primeiro “chora”, mas faz questão de pagar. O segundo “chora”,
mas para receber de graça.
Pedir desconto é ato de civilidade e
um direito do consumidor; pedir ajuda quando se está em situação de
vulnerabilidade e autêntica necessidade são anseios legítimos e naturais,
sinais de retidão e honestidade, não colocando em xeque a integridade moral de
ninguém.
Contudo, pedir de graça coisas das
quais se pode pagar por elas é forte indício de má índole, autoestima ruim e
invalidez moral passível de psicoterapia para reestruturação de caráter.
Como é bom e prazeroso poder pagar -
com dinheiro lícito - preço justo e adequado pelas coisas das quais se precisa
e possa adquirir. Isso faz bem para a autoestima, para moral e para a alma.
Fazer isso é saudável exercício que fortifica a integridade e dignidade
pessoal.
Autor:
Prof. Chafic Jbeili