Depressão... onde está o desejo?
Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS, a depressão é o mal mais comum entre as mulheres, superando o câncer de mama e doenças cardíacas (Revista Veja de março de 1999).
O peso da depressão na ocorrência de infartos é tão grande que ele passou a ser fator de risco isolado, Federação Mundial de Cardiologia (Revista Veja de maio de 2002)
Comparando essas informações constatamos que a depressão é um mal que cresce a cada dia, isso quer dizer que a cada hora mais pessoas deixarão de fazer suas atividades, de concluir tarefas, seus atos diários, não encontrando mais prazer em seu cotidiano.
E será que isso aparece de um momento para outro?.
Não.
O deprimido é aquele que vai ao longo de sua vida cedendo em seu desejo, abrindo mão de seu prazer até o ponto, onde para muitos não é possível levantar da cama; aliado a isso tem também emagrecimento, dores e muita tristeza, mais do que tristeza, nos dizem "uma dor profunda na alma, que não sei de onde vem": "tudo é cinza, e não importa se o dia está ensolarado"; "eu não vivo, me arasto a cada dia"; esses são os ditos que escutamos dos pacientes que nos procuram.
Existe algo que caracteriza a depressão que é uma tristeza imensa e o fato de que o sujeito abandona o que fazia diariamante, não encontrando forças para seus afazeres do dia-a-dia.
Até chegar ao consultório de um psicanalista, o sofredor, se entupiu de medicamentos - alguns com eficácia e outros não – sendo tratados organicamente , para equilibrar a química cerebral que estava desregulada, mas a maioria das vezes não falaram sobre a dor e angústia do que sentem, e alguns médicos são unânimes em reconhecer que os pacientes não podem ser tratados somente com medicamentos, precisam falar e descobrir o sentido do que lhe aconteceu.
Essa doença da alma, como é chamada é a quinta maior questão de saúde pública e em 2020 segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) deverá ser a segunda causa mortis.
Podemos dizer que a depressão é uma das patologias do dizer, o psicanalista francês Jacques Lacan diz que se trata de uma covardia do desejo frente a seu desejo.
Mas será que existem no mundo 330 milhões de covardes, sendo 10 milhões somente no Brasil?
Não é dessa covardia que falamos, mas da dificuldade que o sujeito tem diante de seu desejo, esse que é inconsciente e difere da vontade consciente.
Se o desejo não fosse enigmático como poderíamos explicar o fato das pessoas dizerem que querem que tal coisa aconteça e que trabalham totalmente no caminho contrário disso? E aqueles sujeitos que adoecem justamente no momento que conseguem realizar algo em sua vida?
Escutamos dos pacientes que chegam com a queixa de depressão, que caíram nessa doença em um momento significativo de suas vidas: morte de um parente, perda ou ganho de um amor, emprego, nascimento de um filho, saida dos filhos de casa, etc. Nunca é sem um entrelaçamento com algo acontecido.
Também verificamos, que ao longo do tempo esses sujeitos foram se calando, fazendo o que os outros queriam, pediam ou determinavam, e que em relação ao desejo deles foram se amortecendo, usando uma mordaça invisível em sua boca, mas, visível quanto as consequências mostradas em seu corpo.
Alguns até se apresentam como "depressivos crônicos" onde dizem que nada , nem ninguém poderá tirar isso dele, e ás vezes é a única coisa que sobrou, pois já perderam todo o resto: trabalho, namorado, estudos etc.
E existem saídas ?
É possível que o sujeito retome sua vida, seu desejo?
O que vimos na clínica é que á medida que esses pacientes vão falando do "mal-dito" vão se encontrando em seus dizeres, vão mudando o seu discurso e "desenlouquecendo" a química cerebral.
Onde podem articular o seu corpo à sua fala, não mais colocando-se como massa corporal orgânica, mas como um corpo que é afetado pelo dizer, pelo discurso, ou de outra forma, pelo simbólico, esse registro que nos tira da animalidade.
É falando que esses pacientes descobrem o curto - circuito de suas falas e coloca seu corpo em outro lugar, no verbo.
Dra_Andreneide Dantas
Psicanalista