* "O
REAL DO PSICÓTICO É O IMAGINÁRIO DO NEURÓTICO"
* Prof.
Luiz Mariano M.D.
A
loucura é uma manifestação que pode acometer diferentes pessoas em qualquer
momento da sua história de vida. Nesse aspecto, a psicose se
apresenta como uma cisão do contato com a realidade em que o sujeito visa
preservar o afeto das situações conflituosas.
Com base
nesse estudo, o seguinte artigo objetiva promover uma reflexão teórica acerca
da psicose, bem como discutir sobre as visões da psiquiatria e da psicanálise
acerca do tema.
Para
tanto, realizou-se um estudo bibliográfico a fim de obter tais respostas que se
mostraram relevantes para o conhecimento científico e a consolidação da
psicologia enquanto ciência.
A loucura
é uma manifestação que pode acometer qualquer indivíduo em diferentes momentos
e lugares.
Portanto,
pode atingir sua máxima quando o ponto afetado cinde com a realidade a fim de
preservar o afeto
das situações conflituosas e mal resolvidas, tal como ocorre na
psicose.
No que
concerne a psicose, o seu aspecto principal se caracteriza por meio de uma perda de contato com a realidade,
dependendo da intensidade, a perda pode se apresentar com maior ou menor
intensidade.
A psicose começa quando o sujeito relaciona-se com
objetos e coisas que não existem no aspecto real, isto é, podem mudar seus pensamentos, atitudes, convicções
em nome de ideias absurdas ou ilógicas para o mundo, no mesmo passo que a
realidade clara e patente significa pouco ou nada para o paciente.
Um dos
sintomas principais desses pacientes é o delírio, de modo que esse
comportamento se configura como uma convicção incompreensível e inabalável diante
de alguma situação rotineira que pode ser ampliada ou distorcida de acordo com
a visão do psicótico, outras sintomas podem ser alucinações, discurso
desorganizado, comportamento desorganizado.
Psicose e Reflexões
Teóricas
De
início, quando se fala em psicose vem-nos à mente as questões vinculadas aos
delírios e alucinações, que são de acordo com Checchinato (1988) apud
Freud: “estruturas tão normais e com as
mesmas funções na psicose como o sonho no comum dos mortais”.
Portanto,
tratando-se de um paciente psicótico, devemos
inicialmente acolher seus delírios, deixar de lado a censura, pois ainda de
acordo com o mesmo autor por mais confuso que o delírio possa ser, ele é uma
tentativa de cura, uma reconstrução.
Para a psicanálise, a função do delírio é
encobrir uma realidade rejeitada, de tal modo, o mesmo é uma
realização de um desejo, que não pode ser postergado ou substituído. Por isso,
cabe ao profissional, investigar o fator
que desencadeou essa rejeição, visto que é imprescindível que essas lacunas
sejam preenchidas a fim de possibilitar a construção de novos significados e
explicações.
Para
complementar a questão do delírio, é válido mencionar a ideia de Nasio (2001)
falando de Schreber caso trabalhado por Freud, relacionado a um homem bem
sucedido profissionalmente que adoeceu inicialmente com ideias hipocondríacas,
após com ilusões sensórias, estupor alucinatório, etc.
Schreber inseriu o delírio, as histórias
vinculadas à figura de Deus, desvirilização do seu corpo justamente para
dar sentido a uma experiência de desmoronamento, tentando restituir o vínculo
perdido com o mundo externo.
Desse modo, entende-se que esse processo de
reconstrução delirante, e de tal modo, um reinvestimento libidinal
progressivo, ou seja, tentar dar sentido a uma experiência que outrora se
caracterizou como insuportável.
Checchinato
(1988) apud Macedo traz a contribuição de que a análise não seria a tomada de
consciência, e sim um lugar onde o paciente possa falar, um processo de
reconhecimento, onde um sujeito pode advir.
A Partir da Ótica Psiquiátrica
Sabe-se
que a medicina começou a tratar os loucos reclusos como objeto de investigação
e estudo.
A partir
desse material de observação, surge um novo saber: a psiquiatria.
A psiquiatria passou a se responsabilizar
pela loucura e a maneira inicial como realizou isso foi através da internação e
do enclausuramento.
Naquele
período ofertava-se, portanto, um tratamento para a doença, tratamento esse de
fundamentos morais (OLIVEIRA, 2003).
De acordo
com o DSM-IV - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (1995),
visa propor regras para o entendimento da esquizofrenia, bem como a presença de
alucinações, delírios, discurso desorganizado, comportamentos amplamente
desorganizados etc.
No âmbito da psiquiatria as psicoses são
divididas em dois grandes grupos: delirantes crônicas, que abrangem a
esquizofrenia (possuindo quatro subtipos: hebefrênica, paranóide, simples e
catatônica) e as afetivas (cujo
representante principal é o transtorno bipolar).
Um Ponto de Vista Psicanalítico
De acordo com Nasio (2001) toda psicose é uma
doença de defesa, é uma luta constante onde o indivíduo constrói variadas
questões (delírios, alucinações) para não se deparar com uma dor insuportável, não há
possibilidade de troca, ficando o sujeito estagnado, rejeitando radicalmente
fragmentos da realidade, que geralmente lhe expõe o furo.
Nasio
(2001) falando que a psicose permitiu compreender o funcionamento normal da
vida psíquica diz que:
O narcisismo é uma concentração da libido no eu, que priva o
psicótico de qualquer vínculo com o mundo.
A energia libidinal que superinveste o eu
passa, então, a não mais ser empregada para produzir uma fantasia, como no
neurótico, mas a desencadear um delírio de grandeza.(p.38).
Na
psicanálise o trabalho com o sujeito psicótico deve considerar o discurso e o
posicionamento subjetivo desse paciente.
De modo
que consiga entender a angústia do paciente e compreender a sua posição frente
às questões cruciais da sua existência.
No texto “Neurose e Psicose” (1923-1925),
Freud aponta uma diferença básica entre neurose e psicose:
“a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id, ao
passo que a psicose é o desfecho análogo
de um distúrbio semelhante nas relações entre o ego e o mundo externo”.
(Freud,1923/1925, pág 189).
Nessa
perspectiva, a psicanálise utiliza-se de suas técnicas e métodos para acolher
esse sujeito por algum tempo, e com base nessa escuta, postular uma hipótese
diagnóstica que possa localizar a estrutura desse indivíduo, seja ela neurótica, psicótica ou perversa. A partir dessa localização, é possível traçar
uma linha de abordagem e de trabalho com esse paciente.
Checchinato
(1988) apud Macedo traz a contribuição de que a análise não seria a tomada de
consciência, e sim um lugar onde o paciente possa falar, um processo de
reconhecimento, onde um sujeito pode advir.
É de suma
importância citar esse aspecto, pois o trabalho com psicóticos é complexo, pois
o paciente deve passar assumir seu desejo, constituir-se como um ser desejante,
que ele fale sobre sua vida, delírio e não mais seja falado.
Considerações Finais
As
discussões empreendidas nesse artigo, pautadas na investigação do sujeito na
psicose, fomenta os estudos para esclarecimento da psicose a partir do ponto de
vista psicanalítico e psiquiátrico, bem como a partir das reflexões teóricas
que abrange esse estudo. Desse modo, entende-se que a psicose pode se enquadrar
a partir de um emaranhado de sintomas, como também no momento em que os
conflitos alcançam seu auge. Assim, esse trabalho permitiu visualizar muitas
questões vinculadas ao universo psíquico do sujeito, bem como os dinamismos e
conflitos do psiquismo. Nesse sentido, a leitura e reflexão sobre a psicose é
de grande relevância científica visto que aumenta o senso clínico e contribui para
a construção do saber acerca da loucura e suas manifestações.
Alex Barbosa Sobreira de Miranda
Departamento de Psicologia.
Faculdade de Ciências
Médicas. Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Teresina, PI, Brasil.
Fonte Consultada: http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/o-sujeito-na-psicose#ixzz2ZznfRkzr
Fonte Consultada: http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/o-sujeito-na-psicose#ixzz2ZznfRkzr