domingo, 24 de março de 2013

Porque Fazer Análise ?


A Psicanálise é a Clínica do Acolhimento da Palavra
Porque fazer Análise?
A Psicanálise serve para Acolhimento do Sofrimento amoral do discurso da Alma Humana*  *(inconsciente). Isso sem julgo e sem Medo.
A Psicanálise em sua essência é a clínica do acolhimento da Escuta, da Palavra.
Acolhimento da Palavra não dita, palavra que não tevê oportunidade de construir seu discurso próprio na sua estrutura psíquica.
Na análise o "discurso" remendado é gradativamente levado para uma recostura "per si".   Se a religião é o porto seguro para o exercício da fé e também da culpa do nascimento da transa dos nossos pais, visto que onde tem sexualidade. A religiosidade se insere com a culpa., como cunho de domínio e controle da família e individualidade do ego.
Vive-se o medo e a temência de ser   julgado por amores e paixões que fazem parte natural da existência humana.
A psicanálise dá asas para voar além do “porto” do pecado, além do purgatório e nessa perspectiva “de voo” podemos descobrir o quanto somos capazes, fortes para reeditar nossa existência com o "outro e sem o outro" num viver ético.
E mesmo que ainda nos sentimos culpado e com medo,  na caminhada da análise seremos capazes de exercer a sexualidade sem medo do pecado e sem medo de ser feliz. Logo sem necessitar de nenhum “intermediário” que venha me desautorizar o desejo e a libido da sexualidade da minha vida. 
"Freud dizia que as religiões são excelentes abrigos das neuroses humanas" (1856/1939) Livro: Mal Estar da Civilização.
Na Psicanálise existe o Acolhimento da Palavra sem medida, fazer análise é o lugar onde o “palavrão” é desmascarado e  desmistificado é onde ele pode ser inclusive falado.  Na clínica de Psicanálise  esse "palavrão" são todas as palavras que deixei de dizer algum dia para alguém desde de infância.

Na "análise" o sujeito constrói esse palavrão através do seu discurso.   
Fazer “análise” é "estar-se"  sujeito a descobrir que um “grande amor” nem era ou foi é um grande amor assim, fazer análise é descobrir que uma grande paixão nem é mais tão uma grande paixão.
Fazer “análise” é descobrir que as instâncias do se apaixonar e amar, não devem  existir como vinculação de “partilha” do “indivíduo” em sua totalidade, gerando assim relações de dependência afetiva e possessividade.
Mas amar analítico é para “compartilhar” e esse compartilhar deve se apontar para o amadurecer, crescer e evoluir para existência dessa vida compartilhada.
Na paixão “partilhamos” o caminho, no “Amor” compartilho o caminho sem renunciar minha individualidade e liberdade; mas se tiver resquícios de um complexo de Édipo mal resolvido vou sofrer e fazer alguém sofrer.
É no Édipo e na infância com nossa mãe que a maioria de nós aprende a referência para amar e com nosso pai aprendemos a disciplinar "isso" para esse amar.   
O Amor é aquilo que dou (doação, ágape).  A paixão é aquilo que exijo para “tamponar” uma lacuna uma brecha que me falta e é preenchida pelo “outro” ( é uma sensação de bem estar por receber e perceber- se a si (narciso)  e não dar quase nada para o outro).
No amor eu "doou" sem pedir nada em troca porque "Amor" é luz refletida "vai e volta".  Na paixão exijo inclusive exclusividade e é na paixão que inclusive manipulo a individualidade do "outro" exijo "luz" mas posso por meu "Outro" em trevas.
Grandes conquistas acontecem na instância da paixão mas também  crimes passionais e hediondos também moram na possessão da paixão e não do amor.
Por isso é muito importante o candidato e aspirante a formação para  “Analista” fazer sua análise pessoal continuada, fazer suas supervisões de atendimentos antes de se tornar psicanalista de fato.
É preciso reeditar sua caminhada, sua história é preciso conhecer sua neurose e tratá-la primeiro para depois tratar do "Outro".

A Psicanálise é das poucos ou únicas especialidade ou ocupação laboral em que se experimenta primeiro do seu método para depois se utilizar no outro.
Não há restrições médicas, contraindicações e efeitos colaterais indesejados em se fazer análise sendo neurótico.  Haverá alguns  sintomas e reações como mecanismo de defesa e resistência a mudanças de si para si mesmo.
Mas ninguém vai a "óbito" ou fica com sequelas clínicas indo fazer "análise. Por isso não há emergência clínica médica em se fazer análise de neuroses inorgânicas e da instância do inconsciente.
O psicanalista (não médico) não pode ou deve aviar nenhum tipo de indicação de tratamento medicamentoso e nem pode suspender nenhum tipo de tratamento clínico ou de exames clínicos do seu analisado.
Psicanálise é Psicanálise: (Associação livre de ideias, Interpretação de Sonhos, Pontuar, Interpretar e Confrontar os achados do Inconsciente pela palavra)
Nesse artigo tenho intento de levar aos pacientes de psicanálise como também aos alunos (as)  e candidatos a formação para a clínica de acolhimento da psicanálise a importância de se fazer sua análise e da supervisão.
O Divã não é o leito para o corpo, mas é a acomodação do corpo para o acolhimento do inconsciente do sujeito.
E é nisso que vai se permitir "o vir da fala"  que através da escuta do "Analista" via associação livre, se criará condições e tempo propício para o “inconsciente” se fazer presente pela “palavra” que deverá ser pontuada com imparcialidade e amoralidade pelo seu psicanalista.
“O Psicanalista é o Poliglota da Alma Humana” (Chafic)
A psicanálise serve para a desconstrução do olhar e reeditar o sentir do sujeito, do seu “outro” e do seu sofrimento como “sujeito”.
Porém na análise não é recomendável e nem o objetivo visar cura de algum sintoma clínico médico ou doença.
Fazer análise é se submeter não só a confiança e experiência do Psicanalista, mas a ao método da psicanálise tradicional e coloquial.
E é nesse viés que temos um construto novo semelhante a um homeopático abstrato onde vamos alcançar o insabido gradativamente e descobrimos, e  aos poucos saberemos que nossa consciência e nossa razão, nem sempre têm consciência e razão de sermos assim inclusive infelizes e vitimados pela infelicidade.
Na análise vamos descobrir que inclusive podemos nos reeditar  para a possibilidade de um novo sentir e um novo “ser assim”  inclusive em instâncias novas da consciência e razão.  
A estrada da psicanálise é direcionada sempre ao universo abstrato e inorgânico individual do inconsciente humano;  e cada sujeito é um universo único em sua análise e sua história de vida.
A análise é possibilidade de me “permitir” fazer a travessia por uma nova estrada para aquilo que já existe na minha história desde infância, é um passo onde me permito conhecer meu sofrer sem me arruinar.
Embora o objeto da psicanálise não é eliminar o sintoma a análise  e se inicia após toda representação simbólica da queixa. É na elaboração do sintoma que o sujeito faz sua análise gradativamente e (cada um tem o seu tempo) por isso fazer "análise" demanda tempo.
Na análise vai se permitindo vencer resistências e mecanismos de defesas  descobrindo-se o quanto havia em seus sintomas, o quanto de tempo ou desperdício energia e libido com coisas que podem ser  "ressignificadas" e tratadas pela psicanálise. 
E isso é a indicação da possibilidade da construção de um novo olhar, uma nova ética para viver sem culpa, sem medo exagerado.
A análise é a possibilidade de um novo viver mesmo sendo neurótico, um Viver "Real"  sem tamponamento vai-se descobrindo o que somos e o que realmente desejamos nesta Vida.
Fazer análise é um desafio para conhecer-se a "si mesmo" é estar disposto a verdade insondável  que habitava a palavra e seu discurso do cotidiano.
 No discurso existo e enquanto que simbolização da existência do individuo está na interpretação dos conteúdos simbólicos da fala.
É no discurso que fazer análise é a libertação do seu sujeito de si e do seu “outro”. (Lacan)
Enquanto que no cristianismo a máxima: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos Libertará”

Na Psicanálise poderíamos usar o jargão:
“Conhecereis a si mesmo e seu desejo que isso vos Libertará de si e do outro”.
É claro que na análise diferenciamos as instâncias morais e religiosas das instâncias do prazer e tratado do desejo no contexto da estrutura psíquica individual de cada um de nós.
A Psicanálise não é imoral porém deve tratar de todas as questões e conflitos humanos de forma imparcial e amoral dentro do método psicanalítico tradicional e coloquial.

Luiz Mariano
Member Doctor Psychoanalyisis Theories and Clinical Psychopathology 
Percurso de Psicanálise da ABMP-DF & Uk Psychoanalysis Society - London
Doutorado Psicanálise Clínica EPCRJ - American World University
Mestrado Psicanálise Clínica do Acolhimento EPCRJ - Soul Open University London  



quarta-feira, 6 de março de 2013

DIZEM QUE SOU LOUCO.....


Crônica da loucura
Por Mário Prata


O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos.

Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra.
Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.

Durante quarenta anos, passei longe deles.
Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.

O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera.
Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas.
Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco.
Ninguém olha para ninguém.
O silencio é uma loucura.

E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses. Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo.
E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu.
Senão, vejamos: Na última quarta-feira, estávamos: (1) eu, (2)um crioulinho muito bem vestido, (3) um senhor de uns cinqüenta anos e (4)uma velha gorda.

Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles.
Não foi difícil, porque eu já partia do principio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.
(2) O pretinho, por exemplo.
Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime.
Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam ou não conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba"?

Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza.
O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele.
Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça.

Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro.
Podia ser perigoso.
Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.
(3) E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado.
Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo.
Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver.
Filho drogado? Bem provável.
Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa.
Claro, abandonado pela esposa.

Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual?
Acho que não.
Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.

(4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha.
Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus.

Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos.
Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora?
Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar.

Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava.
Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa.
Coitada. O que deve ser dos filhos dela?

Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos.
Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.

Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.
Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera. 

Ele ri, ri muito, o meu psicanalista e diz:

"(2 ) O Ditinho é o nosso office-boy.
(3) O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.
4) E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.
E (1) você, não vai ter alta tão cedo..."

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

FILHOS SEM O NOME DO PAI (LACAN)


“Somos uma Nova geração de Filhos Sem o Nome do Pai”

Nome Pai (Lacan)
(Nome da lei, Nome do Interditor do desejo incestuoso, Nome da Instância do grande “Outro” sem o nome do “Pai” ou a ausência da sua inscrição com "isso" o  desejo de  incesto pode se transformar em (pulsão de Morte) por isso sempre haverá perversão sexual e violência.

Dr. Luiz Mariano M.D. Psicanálise Clínica

Violência e Psicanálise

Temos acompanhado estarrecidos a violência cada vez maior à nossa volta. 
Requintes de crueldade bestiais, culminando quase sempre com a morte das vítimas indefesas. 
Essa mesma banalização da morte, onde queimar corpos, dizimar famílias, o uso de armas de fogo sofisticadas, a disseminação da droga, choca-nos profundamente. 
Mais recentemente, a criança de seis anos, que morreu arrastada pelo carro roubado por marginais, presa ao cinto de segurança. 
Não há palavras que cubram ou possam explicar tais ações.
Diante desse "real" dos fatos, resta-nos apenas um absurdo inexplicável, que está totalmente fora da lógica que aprendemos como social. 
Escrever sobre o assunto aqui, nesse gigantesco laço social que é a Internet, é um desejo de compartilhar com os amigos a busca de um sentido qualquer para o que ora vivenciamos. 
Vamos passo a passo: 
-Desde criancinhas, já temos presentes pulsões sexuais circulando por nossos corpos.
A busca de satisfação dessas pulsões é constante, a obtenção do prazer, não importa por que meios. 
-Estruturalmente, instaura-se uma lei simbólica para nós, que a psicanálise denomina Nome-do-Pai, lei esta, que vem interditar a obtenção desse prazer maior, tornando-nos aptos a circular no que acima denominei de social.

-Circular nesse social, quer dizer, fazer uso da palavra, pertencer a um discurso que possa nomear nossos desejos e outros, já que a satisfação completa fica para sempre perdida a partir da interdição, da lei.

-É a partir daí, que se faz possível conviver, trabalhar, amar, enfim, organizar os grupos sociais de uma forma "aceitável". 
-O não comprometimento com essa lei, o Nome-do-Pai, implica na psicose.
A saber, são os sujeitos que se situam fora de um discurso.
Para eles, não houve a interdição, não houve o corte fundamental que os introduzisse-nos tais laços sociais. 
-Não precisa ser necessariamente o próprio pai do sujeito, a figura a vir instaurar essa lei.
Basta apenas que seja alguém evocado pela figura da mãe, um nome suficientemente forte e capaz de se interpor à obtenção do prazer maior.

-Esse Nome-do-Pai é continuamente simbolizado na sociedade, através da figura de dirigentes, juízes, autoridades em geral.
Eles estão sempre presentes, lembrando-nos que há barreiras, há proibições, há interdições, há coisas que não podemos fazer. 
O que temos observado porém, é que essas figuras têm sido falhas, ausentes, não suficientemente fortes para fazer valer os contornos dos limites permitidos.

O PAI biológico não tem podido estar presente à criação de seus filhos.
Por motivos sociais inúmeros, que não nos cabe aqui ressaltar. 
A nação tem estado à deriva, sem um PAI, sem a LEI. 
Os partidos políticos representariam ao povo, o PAI acessível, o PAI interlocutor, dividindo a célula grande (o país) em pequenas células (os partidários eleitores).
E lá, numa instância maior, fariam se representar em nossas reivindicações e desejos, em suma, em nosso bem estar e seguranças. 
O que vivenciamos ultimamente não está apenas aquém disso, mas sim, estamos absolutamente abandonados à própria sorte (violência, miséria, etcs). Falta-nos esse PAI, falta-nos a proteção, a credibilidade, e o pior, a própria figura de um chefe/imagem identifica tória de cidadania e respeito.
A horda vai se formando de SEM LEI, SEM TERRA, SEM TUDO, e se avoluma
Uma grande psicanalista francesa, Collete Soller, já se referiu ao termo: "UMA MASSA ESQUIZOFRENIZADA".
Nossa indignação e o não entendimento, provêm certamente do que me referi acima: tentamos entender no registro simbólico (fomos submetidos à lei), dentro de um discurso outro, totalmente incompreensível a "bestas" enfurecidas. 
Estamos impotentes, simplesmente porque o famoso olho-por-olho ou dente-por-dente não cabe no nosso discurso socializado. 
Resta-nos esperar pelo PAI dirigente honesto, pelo PAI que faz cumprir a lei, pelo PAI que restaure uma imagem de respeito e dignidade. 

Rita Guimarães é Psicanalista


sábado, 12 de janeiro de 2013


"Lacan diz que a mãe não pode ser 100% presente senão  a criança será psicótica. Comento que  A Mãe muito presente e que dá muito "presente" inclusive ela possui o poder de "matar" o pai no imaginário da Criança, restando  apenas no simbólico da Criança um FUTURO jovem ou (adulto) com um pai "ausente, fraco, morto e sem autoridade"

Prof.  Dr. Luiz Mariano

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

“Eles não sabem que estou levando a Peste”


“Psicanálise é a Verdade inaceitável e Insuportável”


“Eles não sabem que estamos levando a Peste”  
Freud (1909)

Desde sua criação por Freud a psicanálise é fato um percurso vai encarando a oposição dos indivíduos da sociedade e da sua época; Ainda talvez hoje ainda exista muita oposição ao saber e as técnicas freudianas. Em algumas instituições criou-se uma espécie de dogma em torno da psicanálise, que se serve como prato para dissidência entre os próprios psicanalistas ao longo do percurso. 

O próprio Freud quando, ao retraçar, em 1914, a História do Movimento Psicanalítico, apresenta um extenso inventário das resistências à psicanálise.

Freud relata que grandes números de seus discípulos iniciais destacaram alguns como: (Adler, Jung, Rank) deixaram de aderir em algum momento às suas teses e fundaram suas próprias teorias.

Na verdade, a própria teoria psicanalítica freudiana apresenta os meios para esclarecer quais foram os motivos do repúdio as idéias de Freud que inicialmente num primeiro momento verdades sempre “impactantes” a respeito da natureza do “Inconsciente” humano. 

Dr. Freud tinha todos esses acontecimentos em mente e quando foi viajar para os EUA em 1909, comentou com Jung que o acompanhava com os americanos. –

- “Eles não sabem estou levando-lhes a peste”.

Com a eminente recusa as idéias freudianas com relação à mente humana (inconsciente) e sua estrutura psíquica. Sempre Freud foi colocado em “Xeque”. Mas a própria psicanálise vê isso como a verdade de cada “sujeito e sua história” e se está em elaboração simbólica dos seus conteúdos “Inconscientes” a revelação freudiana parece uma “verdade inaceitável, insuportável pelo ser humano racional.”

A verdade inaceitável e insuportável é demonstrar que há algo que age neles à “revelia” ou mais do que isso, algo a partir do que eles agem sem saber que o fazem.

Em 1909 Freud revela e implica com sua teoria freudiana do inconsciente: a presentificação de uma divisão constitutiva “psíquica” que revela de fato que os homens não são senhores de si mesmos.

Freud ressaltava ainda que uma aceitação imediata da sua teoria fosse do mesmo modo quase impossível, mas ao mesmo tempo reveladora.

Freud achava que naquele instante que houve uma ação de resistência à sua tese sobre o psiquismo humano (inconsciente) até porque, acarretando uma aceitação sem conseqüências subjetivas, seria menos eficaz neutralização do que ele radicalmente trouxe como novo modelo de pensamento para o inconsciente e sua estrutura psíquica. 

Hoje podemos observar em todo o mundo, paralelamente o aumento da difusão da psicanálise junto ao público pelos diversos meios da imprensa, embora aliado a isso um crescente desconhecimento da especificidade do pensamento freudiano, uma crescente vinculação dogmática expandindo não mais a psicanálise freudiana, mas alguma coisa vincular a laços de religiosidade, onde se tenta dizer ou fazer aquilo que justamente não é Psicanálise.

“Já dizia prof. Edmar: “O Sagrado é proporcional as minhas necessidades” e complemento nem que isso, e não as “minhas verdades” e logro também  aqui a fala do Prof. Gilberto Safra: “ Fazemos tamponamento da Verdade que não podemos Aceitar”      

Se tal desconhecimento não pôde ser detido em sua escalada, isto se deve ao trabalho rigoroso e fecundo de reconsideração dos fundamentos da obra de Freud que foi empreendido pelo psicanalista francês Jacques Lacan.

Entretanto, não é em toda parte que a obra de Lacan tem merecido acolhida.

Texto originalmente escrito em 1987 para a Enciclopédia Britânica e permanecido inédito.

Partindo de sua experiência inaugural com as pacientes histéricas.

Freud não tarda a outorgar à sua teoria uma abrangência absoluta.

Desse modo, a fronteira entre o normal e o patológico, nitidamente demarcada pelo discurso da medicina, acha-se problematizada de saída pela tese freudiana do determinismo psíquico inconsciente.

Freud destaca a ação do desejo inconsciente num amplo espectro de fenômenos até então relegados a um plano desimportante (como o sonho, o esquecimento de palavras e nomes, o ato falho, o chiste), ou, ainda, naqueles cuja estrutura se revelara até então ininteligível pelos discursos médico e psiquiátrico (sintomas neuróticos, delírios psicóticos, perversões sexuais).

Na análise de todos estes fenômenos, o denominador comum foi depreendido e sempre pelo trabalho, pesquisa e estudos de Freud:

A expressão para acessar esse “Inconsciente” freudiano foi por meios distorcidos pela censura psíquica, de uma verdade à qual o sujeito não tinha acesso conscientemente

Todo sujeito e cada um sob uma forma específica, um sentido ocultado por efeito do recalcamento, era o agente da produção de uma formação do inconsciente.

Qual para se fazer presente necessitava de uma expressão indireta e que deformava para o sujeito em questão o desejo inconsciente em jogo.

Na Psicopatologia da vida cotidiana Freud dedica-se a mostrar sua exaustiva de sua tese do determinismo psíquico para evidenciar que nenhuma de nossas ações escapa à sobre determinação inconsciente.

Freud explica a elaboração da repetição de da força dos mecanismos de defesa do inconsciente.

Para exemplificar a repetição, Freud se vale da interpretação dos sonhos.

Os sonhos revelam conteúdos inconscientes, desejos reprimidos (verdadeiros ao sonhador) (os sonhos são centrados na revelação de conteúdos reprimidos ou traumáticos). Cujo caráter revela a ação de uma força que ultrapassa aquelas que regulam a busca da homeostase na qual se baseia o princípio de prazer.

Quando se inicia no processo de “análise” muitos pacientes começam a se lembrar dos seus sonhos e durante as sessões e é gradativamente possível a interpretação de cada sonho seja em sua totalidade ou fragmentado.

Neuróticos normalmente sonham e Psicopatas deliram acordado  

Como postulado sobre o inconsciente de Freud atingiu “certeiramente” a hipótese reconfortante sobre o livre arbítrio.

Desse modo, golpeia simultaneamente o narcisismo dos homens, revelando a este algo difícil de ser por eles assimilado – o fato de que se acham, em suma, descentrados em relação a si mesmos.

Para Freud, toda escolha, todo ato, preferência, por mais banal ou casual que possa parecer, encontra-se determinado por elementos que transcendem qualquer deliberação da vontade racional consciente.

Vê-se, com isso um grau de dificuldade que seus postulados colocam em: aceitá-los verdadeiramente. E isso implica necessariamente em passar pela experiência de fazer sua (análise pessoal), daí encontramos a significação de algum modo, despojar-se da ilusão (imago) de si mesmo, para a imago do (real), sem tamponamento do seu real desejo.

É somente nessa “vivência” de “análise pessoal” que se conhece a “Psicanálise em essência”.

Disso pode advir o libertar-se de muitos tamponamentos e acatar aquilo que nos apresenta diante de “si” como uma verdade terrível e inaceitável. A psicanálise é uma ciência da livre arte (do pensamento humano) onde uma vez se iniciado, corre-se o sério risco de nunca mais ser o mesmo que se achava ser no “real de mim mesmo”.   

Precisamente é uma espécie de libertação é num sentido freudiano de que a  ilusão que é nutrida pela instância psíquica do eu (ou ego) segundo a tradução inglesa do Ich freudiano), cujo caráter unitário, íntegro se opõe veementemente  ao caráter originalmente  cindido, dividido do sujeito do inconsciente. 

A distinção categórica entre o eu e o sujeito do inconsciente foi estabelecida por Lacan, ao ressaltar que era justo no “eu”.

Freud situava não apenas a instância produtora do recalque como também a sede da maior resistência às descobertas psicanalíticas.

Em seu trabalho sobre O estádio do espelho, com efeito, Lacan aborda o momento, destacado pela psicologia do desenvolvimento, em que, entre os 6 e 18  meses,  o infans (aquele que não fala) tem a percepção, confirmada pelo assentimento  de um terceiro, de sua própria imagem no espelho, e vivencia tal percepção  com júbilo. Neste instante,  forma-se  a matriz  identificatória   original  do  eu,  imagem   unitária  que  lhe  fornece   uma  ilusão  de completude. 

Se tal imagem  surge para o bebê enquanto  apaziguadora  – pois lhe permite a vivência de uma unidade corporal que substitua o anterior estado do corpo parcial, espedaçado, por outro lado, ela apresenta desde já um valor letal, origem das manifestações  agressivas.

Ao perceber seu “eu”  naquela imagem, é criado para o bebê um abismo incolmatável  que lhe revela que seu próprio eu está dissociado dele mesmo de modo inarredável.

A partir disso o infante terá marcado para sempre em seu território, nessa imagem de um ideal do “eu” cuja força cativante tem o valor de uma verdadeira estátua pregnante.

Uma teoria tão em voga ainda hoje como a do eu autônomo, introduzida pelo
psicanalista Heinz Hartmann, encontra aqui sua crítica mais radical.

Se o sujeito se manifesta, para Freud, essencialmente por meio do conflito, a suposição de uma esfera isenta de todo e qualquer conflito, como a de um eu autônomo, constitui na verdade um ideal ilusório, uma miragem imaginária.

Embora o nome de Freud tenha muito rapidamente sido associado à idéia de sexo, poucas vezes o é atribuído por Freud à sexualidade que é resgatando corretamente a concepção que Freud introduz sobre a sexualidade, que era inteiramente nova e não poderia ser confundida com as noções que o senso comum, muitas vezes camuflado sob uma máscara de pseudo-cientificidade, lhe atribui.

A noção de sexualidade em Freud possui um valor particular se referenciada aos seus postulados fundamentais sobre o recalque e o inconsciente e a estrutura psíquica.

Freud parte do princípio da escuta e observação de que os sintomas neuróticos  apresentam   sentido que se revelam em  análise e o caráter sexual se desnuda na medida em que a sexualidade no neurótico se acha  perpassada,  de  modo  latente,  por  aqueles  mesmos  elementos  que  na  sexualidade perversa (da qual o fetichismo é o exemplo princeps) surgem de modo manifesto.

Voltando se para  formas  da  sexualidade  perversa,  Freud  se  dá  conta  de  que  aquilo  que  era condenado  socialmente  enquanto  desvio,  ou  até  mesmo  degeneração  sexual,  encontra  na verdade a expressão mais corriqueira em todos os indivíduos normais, esse fato se demonstra pela constatação  feita pela psicanálise  da universalidade  das chamadas  perversões  sexuais e deve-se a uma disposição inata comum a toda a humanidade.

Freud constata que contrario às outras espécies animais,  que o ser humano  não apresenta   no  seu nascimento   uma  indicação  demarcada   quanto  ao  parceiro  sexual  a  ser procurado. 

Se tal afirmação pode de início parecer aberração, ela se demonstra facilmente pela inexistência de uma pré-definição da sexualidade humana. Visto que nós “seres humanos” não usamos a nossa sexualidade de acordo com os ciclos biológicos determinadas para reprodução como no reino animal.

Assim não há para os humanos os períodos de cio ou reprodução pré-definidade como no reino animal.

A sexualidade humana se revela o quanto é complexa e desvinculada  dos  fins  específicos somente de reprodução e perpetuidade da própria espécie freudianamente dizendo.

Ainda é questionável visto que no “reino animal / da própria” espécie segundo legado da biologia, alguns “animais irracionais” se se atacam entre “Si” ou seu semelhante para, mas instintivamente somente para defender seu território, conquistar sua fêmea, conquistar a liderança entre o clã.

Coisa que já não é peculiar no comportamento humano que se mata um ao outro por nada, um aparenta vazio das inscrições paterna ou materna de cunho edílico (sociopático)

Voltando a fala sobre a sexualidade em Freud.

Freud descobre que a ação dos ciclos periódicos da natureza humana é subvertida, a sexualidade humana é diferente da dos animais.

Essa ação é de que somos seres com uma “linguagem” (inconsciente).

Desse modo o ser humano adquire uma tão absoluta quanto poderosa força e influência sobre suas vidas.

Para o ser falante (simbólico) a sexualidade não se restringirá ao ato sexual enquanto conjunção dos órgãos genitais. Mas se revelará em outras atividades aparentemente desprovidas de um cunho sexual: o ato do olhar, a leitura, os esportes, as funções fisiológicas de excreção, a respiração isso é para apenas dar alguns exemplos, são todas atividades imbuídas de elementos sexuais.

Se Freud isola as práticas sexuais chamadas de perversas, os mesmos elementos que compõem a sexualidade considerada normal são na medida em que em ambas achamos os resíduos da ação remanescente da sexualidade infantil, na qual ele observou uma disposição perversa polimorfa originária.

Um dos pólos geradores de maior resistência à teoria freudiana da sexualidade se encontra precisamente na sua concepção de uma sexualidade múltipla, errática, desconcertante e, além disso, calcada nas vivências primevas da infância.

Nestas constatações Freud esclarece que à força que rege os impulsos sexuais no ser humano o nome não de instinto (cujo funcionamento supõe um objeto sexual previamente definido), mas de pulsão, não sendo este como aquele regido por ciclos biológicos pré- estabelecidos, mas sim pela ação contínua da linguagem. 

A pulsão é freudianamente a responsável pelas chamadas fases de desenvolvimento da libido:

Fases: – Oral Anal e Fálica -, o desenvolvimento dessas fases dão a ação sobre esta ou aquela zona erógena nas diversas etapas da existência inicial da criança.

Se as bordas ou orifícios do corpo se revelam de início como verdadeiros pólos de imantação zonas erógenas nos quais são associados não só para a obtenção do prazer como a satisfação de necessidade imediata.

Não obstante qualquer região do corpo pode ser revelada também passível (histericamente) de ser erogeneizada para o não encontro com o gozo próprio.

É a partir do Outro, lugar da palavra, como veio a precisar Lacan, que a criança obterá meios para constituir sua sexualidade particular.

Se a Criança não possui a designação sexual previamente delimitada (o que Freud formula através da constatação da inexistência da inscrição da diferença sexual no inconsciente) é somente por intermédio da Ação da linguagem sobre seu ser que poderá vir a obtê-la.

Essa é a ação que produz um sujeito, enquanto efeito da linguagem, por isso mesmo esta o sujeito, como seu próprio nome, através da sabedoria maior da língua, indica. 

Freud alude em suas teorias sexuais infantis, modo pelo qual a criança poderá constituir uma fantasia sexual inconsciente que passará a mediatizar por toda sua vida seu encontro com o real. (Lacan)

Essa fantasia constitui precisamente o princípio de realidade para cada sujeito, o que acentua que a noção de realidade introduzida pela psicanálise é inteiramente nova, refere-se a uma realidade psíquica singular (única) e remete ao momento mesmo de constituição do sujeito.

O corpo de que trata a psicanálise (é corpo psíquico, (não entender como corpo Espiritual, místico ou de cunho religioso).

O Corpo da Psicanálise é abstrato sutil e de (linguagem) esse corpo psicanalítico é adverso daquele (Corpo) que é objeto das ciências da biologia, da fisiologia e da anatomia.

O corpo psíquico (analítico) é recortado pelo simbólico, o corpo pulsional (é bem assim que é preciso denominá-lo) é radicalmente heterogêneo ao imaginário da anatomia corporal e – fato tão decisivo quanto espantoso – não está apenas súbdito a nenhuma lei natural. 

É assim que cabe à psicanálise hoje, fazer a crítica de inúmeras práticas ditas de terapia corporal, as quais, calcadas precisamente no ideal obscurantista de um retorno à natureza, desconhecem o fato de que o corpo é também construído por meio de uma linguagem, só por está “linguagem” é abordável, e que, enquanto tal, o corpo é partícipe de um real ao qual é impossível ter acesso. (inconsciente).

Com o ensino de Jacques Lacan tornou-se possível dar uma conseqüência efetiva à necessidade de desvinculação dessas duas práticas e diferenciar de modo preciso os discursos que estão em jogo em cada uma delas.

De uma maneira geral, trata-se nesta diferenciação sobre tudo da forma pela qual o psicanalista e o médico estão inseridos em suas práticas, o que acarretará efeitos cruciais no modo pelo qual ambos passam a lidar com o outro.

A prática psicanalítica retira sua eficácia, paradoxalmente justo na medida em que o psicanalista prescindir da utilização do saber psicanalítico constituído.

Tal fato, de saída impactante, constitui talvez a maior dificuldade da prática da psicanálise e era um dos motivos que levavam Freud a afirmar que a psicanálise era uma profissão impossível se unir-se a outra.

A postulação freudiana de que cada caso clínico devia ser abordado como se fosse o primeiro, em sua radical singularidade.

É a esse título que Freud afirmava ainda que, na prática da análise, a pesquisa e o tratamento caminhavam juntos, sobre o que Lacan viria a insistir posteriormente ao ressaltar que aprendia simplesmente tudo de seus analisando.

A postura do psicanalista, denominada por Lacan de ignorância douta para designar a forma refinada de um saber que inclui um não-saber, não é, na verdade, um mero princípio a ser seguido tecnicamente, mas sim efeito da experiência pessoal pela qual o psicanalista necessariamente passou em sua análise: o saber que se revela na experiência psicanalítica é da ordem do particular, não se presta à generalização, não pode ser dominado por qualquer espécie de mestria.

O saber que está em jogo é o saber inconsciente, cuja característica primordial é o estabelecimento de uma descontinuidade, de uma ruptura em toda forma de saber consciente. 

É assim que, à emergência da verdade do inconsciente, são surpreendidos, simultaneamente, o analista e o analisando.

Para Freud, a cura analítica não implicava em objetivos terapêuticos, os quais, na verdade, acarretavam um perigo para ela e o desaparecimento dos sintomas representava, antes, um efeito do trabalho da análise do que propriamente seu objetivo, pois trazendo-os para o registro da palavra através da ação do desrecalcamento,   a  consistência  deles  é dissolvida.

Qualquer  um  que  se  dedique,  hoje,  ao  estudo  da  psicanálise  não  pode  deixar  de estudar também os seminários de Jacques  Lacan (1901-1981). 

Lacan foi erroneamente considerado, de início, enquanto estruturalista.

Lacan nunca o foi de fato, pois, embora parte do seus desenvolvimentos  iniciais tenham se valido da lingüística  estrutural  criada por Ferdinand  de Saussure,  na verdade sua concepção  de estrutura  difere  fundamentalmente  daquela  do estruturalismo:  implicando  no inconsciente, a estrutura que está em jogo para Lacan não é fechada, mas aberta.

Formado em medicina, sua tese de psiquiatria da psicose paranóica em suas relações com a personalidade constitui, de fato, já a primeira incursão de Lacan no campo propriamente psicanalítico.

Nela, é precisamente toda a tradição psiquiátrica que é criticada, à luz   do   debate   então   emergente   entre   as   correntes   psiquiátricas   organogenéticas    e psicogenéticas,  a partir da perspectiva freudiana, a  partir desta perspectiva que Lacan dará relevo, na análise de um caso de paranóia, o caso Aimée, ao mecanismo de autopunição, cuja inteligibilidade só é destacável a partir do conceito freudiano de inconsciente.

Da psicose paranóica obteve uma notável acolhida por parte dos surrealistas, primeiros a atribuírem, na França, importância para a elaboração freudiana. Após sua publicação, Lacan, que desfrutava de um convívio com o grupo surrealista, foi convidado para escrever na revista surrealista Minotaure.

Além disso, foi após a leitura de Da psicose paranóica que Salvador Dali criou seu método paranóico-crítico, o qual viria a dar um novo fôlego para o movimento surrealista, pois supunha uma atividade crítico-interpretativo que se opunha à passividade inerente aos métodos da escrita automática introduzida por André Breton.

Através de um movimento por ele próprio intitulado de retorno a Freud, Lacan efetivou na verdade um rebatimento da teoria psicanalítica sobre si mesma, ou se quisermos, uma espécie de psicanálise da própria psicanálise. 

Após a morte de Freud, a psicanálise passara a trilhar desvios ideológicos incompatíveis com aquilo que o mestre vienense avançara, Lacan promove a incidência sobre a teoria psicanalítica dos elementos mesmos que ela adianta.

Foi sempre considerando a leitura de Freud como infinitamente mais fecunda que a de um Feneceu, por exemplo, autor de um manual sobre psicanálise, utilizado nos institutos de formação psicanalítica em detrimento da leitura do próprio Freud, Lacan veio a destacar conceitos que haviam desaparecido nas traduções de sua obra.

Alguns exemplos disso são o conceito de Verwerfung,   foraclusão,  introduzido  por  Freud  para  abordar  as  psicoses;  a categoria  de Nachträglich,  o só - depois,  fundamental  para a compreensão  da temporalidade lógica  particular  que preside  o funcionamento  do inconsciente;  o conceito  de Trieb, pulsão, introduzido por Freud para destacar a especificidade da sexualidade humana e que fora homogeneizado   à  noção   de  instinto   pelos   pós-freudianos;   o  conceito   de  Verneinung, denegação,  modo  pelo  qual  o  sujeito  chega  a  poder  enunciar  uma  verdade  desde  que negando-a, também tem sua importância ressaltada pela leitura de Freud feita por Lacan.

Desde o início de seu ensino, Lacan reintroduz  no seio da experiência  psicanalítica  a importância fundadora da palavra, fato esquecido pelos pós-freudianos.  E, se a supremacia da palavra no contexto da cura é salientada por Lacan,  do mesmo  modo  o é a utilização  da palavra  por  parte  do  psicanalista. 

Assim, Lacan dá seu próprio exemplo através de seus Escritos, cuja dificuldade de leitura procede de uma verdadeira estratégia metodológica: o pacificando seu sentido, elevando-os a um intenso grau de densidade textual, Lacan promove a requisição de que o sujeito se inclua efetivamente no ato da leitura, assim como traz à demonstração teórica uma verossimilhança ímpar, aproximando-a da forma particular de exegese que o psicanalista deverá operar em sua prática. 

Por isso, o teor poético de seus escritos é exemplar da utilização rigorosa da palavra enquanto meio precioso e supremo do qual se vale a psicanálise. 

A crítica feita a Lacan de preciosismo se esquece de que a rigor é impossível não sê-lo quando se trata da palavra.

Dessa ênfase posta na palavra, decorre a constituição da lógica lacaniana do significante, a qual, partindo das noções introduzidas pela lingüística estrutural de Saussure, subverte-as ao articulá-las com a categoria do sujeito, excluída da lingüística.

As intervenções estabelecidas por Lacan no campo da teoria psicanalítica podem ser repartidas a grosso modo, sob três rubricas  gerais: questões  pertinentes  à direção da cura analítica,   contribuições   à  metapsicologia   da  psicanálise   e  desenvolvimentos   relativos   à problemática da transmissibilidade  da psicanálise.

Quanto aos problemas colocados pela direção da cura, o trabalho de Lacan, simultaneamente ao resgate das  postulações  freudianas  essenciais,  é o de uma  veemente crítica  aos  desvios  engendrados  pelos  psicanalistas  pós-freudianos  em  suas  práticas. 

Seguindo a recomendação freudiana que indicava para o analista uma posição de neutralidade, sede de um não - agir positivo, Lacan redefine o lugar do analista enquanto o lugar do morto. Tal formulação implica precisamente em que o analista esteja morto quanto à própria subjetividade, a qual não pode estar presente no ato analítico sob pena de obliterar sua escuta. 

Daí para frente Lacan  passa  a  criticar  a  utilização,  difundida  universalmente, sobretudo  pelos  trabalhos  de Heinrich  Racker,  da chamada  contratransferência  do analista (sentimentos  e  idéias  evocados  no  analista  pelo  discurso  do  analisando),  enquanto  meio técnico,  pois ela se calca na suposição  da existência  de uma relação  intersubjetiva  entre o analista e o analisando. 

Esta suposição  é imaginária,  depende de uma concepção  da análise enquanto  uma relação  dual, especular,  de eu a eu, e tem em seu horizonte  o objetivo  de identificar o eu do analisando ao eu do analista, perpetuando assim uma alienação imaginária que, na verdade, a análise deve visar suprimir.

O desvio na prática era uma decorrência da ação cada vez mais centrada no eu pelos pós-freudianos, que passaram a valorizar no manejo técnico a análise das resistências.  Lacan veio ainda aí estabelecer uma importante retificação, demonstrando que voltar a atenção para a resistência  constitui,  com efeito,  uma resistência  do analista. 

Se a palavra é fundadora e seu valor é absoluto na psicanálise. É absoluto na medida em que ela constitui o único meio do qual a psicanálise dispõe, Lacan vem a empreender  uma veemente crítica ainda aos analistas que se valiam de noções decorrentes da idéia de uma comunicação não-verbal e, através desta, só faziam objetificar o analisando.

Para a psicanálise, com efeito, todos os atos, gestos, mímicas, afetos estão na estrita dependência do simbólico e nela trata- se precisamente  de dar a palavra àquilo que até então só encontrava  expressão  através do sintoma.
 Antes de serem não-verbais,  estes são na verdade hiper-verbais,  mas, no entanto, apenas trazendo-os ao regime da palavra pode o sujeito realizar-se plenamente.

Tal crítica lacaniana implica em que na psicanálise de crianças, por exemplo, a técnica de utilização do desenho  e do jogo possa ser utilizada mas desde  que acompanhada  pela enunciação  da criança;  ou, ainda, que os afetos  preservem  sua importância  desde que seu mero  extravasamento   não  seja  considerado  como  o  objetivo  maior  da  cura,  mas  sim  a assunção subjetiva de seu sentido através, ainda e sempre, da enunciação.

Paralelamente ao resgate  para a teoria  psicanalítica  da importância  da palavra  e da linguagem,   Lacan   toma   para   si  o  encargo   de  obter   para   aquela   alguma   forma   de transmissibilidade.  

Esta questão se revela fundamental na medida em que, se para Freud não se colocava  a questão  da não-cientificidade  da psicanálise,  sabe-se  das críticas sofridas  por esta  desde  sempre  pela  epistemologia  da ciência. 

Não poderíamos nos estender sobre este ponto complexo no quadro deste ensaio, mas digamos sucintamente que tais balizas residem, por um lado, na recorrência à topologia matemática (por exemplo, à banda de Moebius, para ilustrar a topologia do sujeito), à teoria dos nós (com a utilização do nó borromeano para demonstrar  a tripartição  estrutural  entre Real, Simbólico e Imaginário),  e, por outro lado, no estabelecimento  gradual ao longo de seu ensino de uma álgebra cujas letras (S1, o significante-mestre,  S2, o saber, $, o sujeito dividido entre  o  par  significante,  a,  o  objeto  causa  do  desejo),  ao  serem  associadas,  constituem fórmulas que Lacan denominou de matemas.

Dois pontos  essenciais  nos quais  desembocam  os matemas  lacanianos  são,  por  um lado,  as  fórmulas  quânticas  da  sexuação,  formulação  lógica  que  recorta  os  campos  do masculino  e  do  feminino  dissociando-os  do  imaginário  da  anatomia  corporal  e  articula  o primeiro à fundação fálica fundadora do sujeito e o segundo a falta inerente ao Outro.

É por meio desta lógica que Lacan vem a afirmar que a mulher não existe, pois não existe nenhum sujeito que se inscreva  totalmente  no  campo  do feminino.

Numa referência  ao  furo,  todo sujeito,  mesmo  as mulheres  – e estas existem:  inscrevendo-se  necessariamente  por uma referência fálica, masculina. 

A principal decorrência desta afirmação contundente, no entanto rigorosa, de Lacan, é outro  axioma  não menos  surpreendente:  Se a mulher  não existe  a relação sexual é impossível. (Lacan)

Dr. Luiz Mariano
Coordenador Percurso de Psicanálise da ABMP-DF & Parcerias
  
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