terça-feira, 8 de outubro de 2013

A Angustia e a Resistência para o Saber e Amar"


“A Angustia e a Resistência para o Saber e Amar”

Embora na psicanálise quase nada seja “objetivo” racional ou consciente neste artigo oportunizo-me escrever-lhes uma reflexão de nossas vidas e acho que muito de nossa angustia  “inconsciente”  é também uma forma de resistência ao amar e ao saber; Saber de um novo caminho; aonde vamos descortinando à medida que nos permitimos ler e “pensar” a vasta literatura psicanalítica freudiana e lacaniana que nos leva a repensar nossa própria vida.

Para muitos de nós mudanças como: uma casa nova, trocar de carro, trocar de amor, mudar escola, mudar para outra empresa, mudanças de regras e normas no ambiente de trabalho ou religioso geram angustia e resistência.

Mesmo a mudança de cargo ou às vezes mudança para outra cidade ou até país tudo isso nos envolve num processo de angustia e resistência.

Na psicanálise até mesmo simples eventos pode nos fazer entrar em processo de sofrimento neurótico e devido à resistência.

Para nós “neuróticos” que pretensamente achamos que somos bem normais o fato de abraçar o novo implica; em abandonar algumas idéias, se envolver com novos paradigmas, às vezes é preciso esfacelar preconceitos morais e religiosos.

E esse é um momento humano de muita crítica, inércia e nós somos na maioria das vezes muito críticos quando nos defrontamos com possibilidades de sairmos da nossa inércia para novos paradigmas do pensamento humano.

Qualquer mudança na rotina confortável passa ideia ao nosso inconsciente que temos que sair da nossa inércia do “Pensar” repetitivo, das nossas expectativas emocionais “repetitivas” e usuais diárias, isso por si já gera angustia e resistência.

Não é muito fácil lidar com o universo dos pensamentos e emoções humanas, e quando nos dispomos a lançar-se nessa nova empreitada a expectativa de mudanças gera onda de angustia e resistência. Isso nos dá uma sensação de ir para o encontro com o desconhecido e com isso ficamos se sentindo incapacitados,  insatisfeitos, infelizes e resistentes.

Isso vale também para a receita dos que buscam o saber  coloquial da psicanálise. Quem não se angustiar e não tiver resistências por enfrentar em sua análise não pode se autorizar nunca psicanalista.

A angustia acompanha a humanidade desde os tempos adâmicos e pré-históricos ela é a responsável por nos colocar em movimento, para o progresso e desenvolve da nossa criatividade como humanos.

Mas quando nossa “angustia” não nos coloca em movimento, ela nos estaciona na inércia mental do pensar criando inúmeras possibilidades de adoecermos em nossos sintomas.

É normal e comum que alguns candidatos ao percurso de psicanálise tenham essa “angustia”, alguns pacientes de “análise” também podem oportunizar que sua  “angustia” no processo analítico poderá ser pontuada, interpretada e confrontada para permitir o sujeito em “análise” faça uma ressignificação do seu viver e do seu pensar.

No coletivo, muitos de nós agimos de forma imprudente e às vezes quando somos críticos e negativos podemos liquidar a nossa raposa. Fazendo aqui a referência lenda da raposa e o lenhador que foi apresentado em módulo do curso de psicanálise.

Agimos de forma extremista para com o sujeito que nos leva para uma luz de algo desconhecido de nossa Alma,  que desnude o real do nosso desejo desconhecido ou tamponado.

Descobrimos na psicanálise, que nem sempre “desejo” é desejo de amar; e que muito de nosso desejo pode ser desejo de vingança, ódio e de falta edipiana.

A Psicanálise é a ciência “arte” de repensar tudo que já foi pensado do “sujeito” que se “sujeitar” a análise.

A Psicanálise é algo que tira-nos nosso “aparente sossego”. Ela tira-nos do nosso habitáculo (resistente e protegido) do comum e do diário.

Com isso nos coloca em movimento de encontro a nossa própria Alma sem nos vincular a alguma religião, a psicanálise desloca  nossos “pensamentos” do inconsciente para a fala.

A psicanálise nos põe a repensar e ressignificar nossos ódios e nossos amores.

A Psicanálise é uma entrada “solitária” em nossa “Alma” não num sentido religioso ou místico. Mas ao fazer “análise” o sujeito cria um caminho para descobrir onde residem suas “verdades que nem sempre são tão verdades” porque elas podem ser ressignificadas.

O sujeito em análise aprende a simbolizar seus sintomas pela fala e falando é que vai oportunizar ao seu inconsciente revelar-se sem a necessidade da posteridade da culpa, punição ou a justificativa que somos fruto do pecado por isso necessitamos de salvação.

Lacan fala que para irmos a “análise” é necessário que o nosso “sujeito” se desconstrua. E em análise, isso acontecerá gradativamente nas sessões, mas exige tempo muita coragem, dedicação.

Nós temos muito medo daquilo que nos encaminhe para encarar a nossa faltar ou oque falta-nos, esse é o medo de muitos o medo do “insabido” do mim mesmo.

A Psicanálise é uma travessia onde descubro quem sou eu, e para isso a priori temos que vencer a nossa resistência e a nossos afetos de questões parentais e do Édipo.

A psicanálise é um caminho incerto, subjetivo e desafiador da verdade “insabida e improvável” de cada um de nós.

Ela nos leva, a saber, que cada um de nós é responsável por seu próprio destino e verdade.

Nesse “percurso” psicanalítico será permitido a escutadores degustar o saber do sabor do pós angustia.

A Psicanálise não é uma nova religião e nem uma filosofia, porém ela pode-nos da uma nova chance para nosso “pensar e sentir” criando possibilidade de mudanças para sua vida ressignificando nosso pensar e nosso amar e ser amado (a).

Evidente nem sempre haverá tanta clareza e racionalidade no percurso da análise, a “análise” é sempre complexa e subjetiva.

Alguns às vezes preferem se afastar, estar cegos  pontos de “recusar-se” a vivenciar uma espécie de maldição desconhecida que a literatura da Psicanálise parece nos lançar sobre nosso sujeito que estava “estático suposto saber do Outro”.

O processo de análise pode ser sim dolorido e desconfortável mas só no  mundo do nosso pensamento.

Não é nada fácil saber que tenho que reparar mais em minhas ações, meus pensamentos, em minhas emoções, afetos que até então pareciam estar todos certos (de sua razão) em sua rota de ódios certeiros e amores errados.

A análise leva o “sujeito” a descortinar que saber de “eu” nem é tão doce e nem tão azedo que não possa ser suportado e ressiginificado.

Com isso olhar e meu julgar severo para com o “Outro” é errante.

Porque errante?

Porque na “Psicanálise Lacaniana” quem é o “Outro” o outro sou “Eu” mesmo que sou refratário do meu sujeito em “carência e falta” responsabilizo a imagem do “Outro” pela minha falta, pela minha relutância em não admitir a mim mesmo que não posso ser o julgador do mundo, julgador do Mestre, julgador das religiões, julgador das escolas, julgador das pessoas.

Julgar o “Outro” é oportunizar afastar-me do meu julgamento que me condena não pelo “Outro”, mas por mim em minha falta edipiana.  

Se afastar do saber psicanalítico, vai nos dar a sensação de se afastamos de algum tipo de maldição prévia em nossa vida.

O saber do coloquial de Psicanálise é esse saber que sugere fazer muitas mudanças e a maioria de nós não gosta de mudanças reais, mas sim de mudanças de máscaras, mudanças de salas e sempre falando do outro e não do meu real do sujeito.

A maioria de nós não gosta ou temos suficiente força para efetivar mudanças de que cada um de nós precisa.

Na psicanálise em todo seu percurso as mudanças mais significativas e sensatas, quase nunca viram pela lei do menor esforço, do menor preço e do caminho mais curto. 

E ao afastar-me de “Mudanças em Mim” na psicanálise isso é resistência e é rejeitar-me para um novo saber do meu “Eu”.

Um novo saber que não me agrade, como descobrir que posso não agradar a sempre meus (Pais) ou como eles me agradariam ou criticariam meus “outros” na minha Infância. 

Quem cresce sob. O olhar da crítica negativa bloqueará sua mente a qualquer novo saber pelo gozo da crítica dos “Outros” seja esse outros: O mestre, o professor, o Juiz, a Lei ou até a Presidenta da República.

A crítica negativa na maioria das vezes não esclarece nada e não nos leva a lugar nenhum que não ao recalque do sujeito.

Esse lugar do sujeito em “análise” é um lugar do vazio e da “falta” na estrutura psíquica de cada um de nós.
Na psicanálise lacaniana o sujeito é desconstruído para aprender a lidar com o bem e o mal.

Na psicanálise freudiana o sujeito se defrontará com suas neuroses para aprender a viver de forma em que suas representações neuróticas não derivem em sintomas que desgastem a sua sanidade, saúde e prazer.

Falta sempre algo para cada um de nós.

E para justificar essa falta, me utilizo da crítica negativa para chamar a atenção, e buscar inclusive aliados que representaram a “minha falta” para mim (Édipo).

 A travessia da psicanálise serve para me tirar da mesmice da rotina e me por a andar entre desconhecidos e estranhos do meu próprio inconsciente.

Não é à toa que pessoas diferentes têm respostas diversas e diferentes a gama e possibilidade de mudanças.

Reconhecer o valor do ambiente e saber se ele tornou-se familiar é extremamente pessoal. Depende da sua história particular naquele contexto, das suas experiências, das suas memórias formadas ali, enfim, do valor associado ao que se está deixando.

Para uns, deixar para trás uma escola onde se era oprimido pode ser um alívio; para outros, que conviviam bem, pode ser um abandono forçado do que foi a segunda casa.

Se as lembranças despertarão saudade ou, ao contrário, a sensação de “já vai tarde”, é simplesmente reflexo das experiências pessoais de cada um. (Recalque x Édipo).

Mas a resposta ao novo também depende do que temos como bagagem de nossa infância e berço, também é dessa instância que vêm nossas resistências insabidas.

Freud mudou o pensamento humano quando inventou a que há possibilidade do inconsciente (existir) e que sua estrutura id, ego e superego têm muita influência na vida de cada um de nós. Freud se utilizou de lendas e mitos para justificar a dinâmica do inconsciente humano através das histórias, lendas e seres mitológicos.
“A mitologia na psicanálise é uma forma de sublimar de dizer a “verdade” humana com menos azedo” de modo que a mesma não pode ser encarada de forma nua e crua, porque não aceitaríamos e não compreenderíamos muitas verdades em nossa civilização se não fossem os mitos, os símbolos e as parábolas.

Lacan diz que somos seres simbólicos que nos inscrevemos através da fala, e Lacan nos oportuniza a possibilidade de pensar e filosofar a psicanálise descortinando os complexos familiares.

Um dos requisitos para conhecer essa “Verdade que pode libertar-nos de nossos; medos exagerados, nossas culpas e livrarmo-nos das constantes auto-sabotagens é acolher os pensamentos e sentimentos “esquecidos e recalcados” em “análise”.

Assim vamos descobrir o quanto somos fortes e nos permitimos ser enfraquecidos pelo medo, pela culpa e nos punimos no desamor.

Permita apenas que a “análise” seja seu momento de associação livre que o leve ao reencontro consigo mesmo.

E se a porta da “angustia” bater, abra não para alimentar o adoecimento, ou a inércia do penar para os sintomas, mas coloque-se em movimento e ponha seus sintomas para falar e repensar.

A angústia (em análise) é para dar asas necessárias para “neurótico” saber que seu inconsciente pode permitir-lhe voar em liberdade, sem medo, sem culpa para a possibilidade da felicidade.
Com o passar do tempo verá que a maturidade do pensar abrirá novos caminhos e esperança para seu ser emocional amar melhor e ser saudável para uma vida feliz.  

O neurótico necessita da “angustia” para amar e busca a simbolização do seu “Amor” no seu imaginário, nisso ele sofre, adoece e faz seus sintomas para sobreviver para seu “amor ou ser amado”.

“O psicótico não busca seu “amar ou amor” porque não o têm em sanidade infantil parental e lhe falta o imaginário do “neurótico”, para o psicótico fica faltante os símbolos do neurótico dos “objetos” para o amor e “amar” por isso ele aparenta não necessitar de ser amado” e isso o remete direto a um “Real” na sua psicose.

O Psicopata não é objeto de “análise” terapêutica e provavelmente ele nunca poderá amar porque só pode amar quem sente angustia, culpa e remorso.  

Prof. Dr. Luiz Mariano
M.D. Psicanálise Clínica



Fonte de Consulta e bibliografia recomendada:

“Freud Conflito e Cultura”  – Michael S. Roth - Editora Zahar

“Estilos do Xadrez Psicanalítico”  – Editora: Imago

“Os Complexos Familiares”  – Lacan – Editora Zahar

LACAN, Jacques. O Seminário – Livro 3 – As psicoses. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1985.


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